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Opinião
02/12/2009 - 05h26
O esquerdismo dos intelectuais
Rodrigo Constantino - Parlata
 

Por que tantos cineastas são de esquerda, defensores do intervencionismo estatal na sociedade? Essa pergunta pode ser feita de forma ainda mais abrangente: por que tantos intelectuais desprezam o livre mercado e aderem ao socialismo? Parte da resposta talvez esteja na aleatoriedade das escolhas do público.

Em O Andar do Bêbado, Leonard Mlodinow mostra como o acaso muitas vezes influencia a ponto de determinar nossas vidas. Logo no primeiro capítulo, o autor usa como exemplo para ilustrar a aleatoriedade de eventos justamente o setor de cinema em Hollywood. Ele mostra como chega a ser imprevisível detectar um padrão de comportamento no sucesso ou fracasso dos lançamentos dos principais estúdios. A sorte acaba exercendo um papel fundamental no resultado de bilheteria dos filmes.

Um dos exemplos é o filme A Bruxa de Blair, que custou aos produtores meros US$ 60 mil, mas que rendeu US$ 140 milhões em bilheteria, o triplo do que rendeu O Exorcista, filme cujo custo foi estimado em US$ 80 milhões. Claro que a qualidade do filme é importante, assim como a competência do produtor, diretor, roteirista, atores etc. Mas o ponto é que são tantos fatores que determinam o desempenho de um filme, ele sofre tantas influências imprevisíveis e incontroláveis, que não seria possível afirmar com grande dose de confiança qual filme será um estouro e qual será um fiasco.

Vários filmes milionários, com atores super famosos, foram vergonhosos fracassos, sem que ninguém pudesse ter previsto isso antes. Por outro lado, filmes que diversos estúdios rejeitaram, por considerá-los terríveis, tornaram-se verdadeiros blockbusters. Isso não ocorre somente com filmes. O mesmo se passa com livros, onde escritores como John Grisham e J. K. Rowling tiveram suas obras rejeitadas dezenas de vezes, antes de virarem celebridades. Não é nada fácil antecipar quais serão os best-sellers e quais ficarão encalhados nas prateleiras.

Nada disso anula a relevância da capacidade. Como o próprio Mlodinow explica, “isso não quer dizer que a habilidade não importe – ela é um dos fatores ampliadores das chances de êxito -, mas a conexão entre ações e resultados não é tão direta quanto gostaríamos de acreditar”. Talvez o talento seja uma condição necessária, mas não suficiente para o sucesso. Até porque cinema e literatura são meios altamente competitivos. E, principalmente, porque as preferências e modismos das massas são imprevisíveis. Aquilo que o grande público vai gostar não é algo simples de prever.

Mas o que isso tudo tem a ver com o esquerdismo predominante em Hollywood e entre os intelectuais? Ora, essa característica aleatória das escolhas do público pode ser muito cruel com os autores. Um dia eles são estrelas, quase deuses, e no outro podem estar esquecidos, mergulhados numa fase decadente. Nada garante o sucesso sustentável. O público, por qualquer motivo aparentemente inexplicável, pode lotar as salas de cinema para ver um filme que nenhum chefão de Hollywood achava que faria sucesso, e pode também se recusar a assistir uma produção milionária com atores já renomados.

A imprevisibilidade e a instabilidade da demanda produzem muita ansiedade nos produtores. Ficar à mercê dos ventos do momento, que podem mudar de direção sem aviso prévio, pode ser desesperador. A competição acirrada e essa demanda randômica assustam. Além disso, muitos produtores gostam de fazer filmes “cabeça”, enquanto nada garante que esta seja a demanda do grande público. Esse fator é ainda mais visível no caso francês. Se ao menos houvesse uma maneira de evitar tanto sofrimento e angústia! Infelizmente, existe uma forma de fugir desta tensão: não depender tanto da demanda. E como isso seria possível? Garantindo antecipadamente uma espécie de reserva de mercado, através do governo, claro.

Desta forma, a simbiose entre produtores e governantes permite satisfação mútua para ambos os lados. No caso de Hollywood a troca é mais sutil e indireta, enquanto no Brasil o acordo é mais direto e escancarado. Os produtores fazem filmes com o suporte do governo, recebendo financiamento dos impostos, cotas nas salas de cinema são reservadas para filmes nacionais e agora o governo pretende levar os filmes para os mais pobres através dos “cinemas populares”. Já os governantes, donos da caneta poderosa, fazem com que os filmes mais alinhados aos seus interesses sejam os vencedores nessa disputa política. Filmes enaltecendo políticos em particular e o governo em geral, acabam sendo os escolhidos para os privilégios. Quem sai perdendo é o público, como sempre...

Resumindo, a aleatoriedade da demanda do público pode ser uma, entre outras (*), das causas do esquerdismo predominante no meio intelectual. Os produtores acabam buscando refúgio na segurança do governo, onde a troca de favores fala mais alto. Dessa forma, eles não precisam se submeter à “tirania do mercado”, ou seja, aos gostos e preferências dos consumidores.

(*) Outras possíveis explicações para a predominância esquerdista no meio intelectual foram levantadas por pensadores como George Stiegler e Hayek.


Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.

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