Como todo bom brasileiro, você se depara com uma fila quilométrica. Dessas que vira o quarteirão. Não sabe ao certo onde vai dar e muito menos sua serventia. Mesmo assim resolve dar uma paradinha e fica. Afinal já enfrentou tantas que já se acostumou. Aquelas pessoas, aquelas conversas, que geralmente gira em torno de dores, doenças, morte e outros atrativos do dia-a-dia. Ela anda lentamente, até aí tudo bem. Não está fugindo à regra. Entre tantos pensamentos, você se pergunta o que está fazendo naquela fila, que nem ao menos sabe onde vai dar. Mas que bobagem, afinal é uma fila, e como bom brasileiro você nem deve se dar ao luxo de questionar. A julgar pela quantidade de pessoas à sua frente, você calcula umas quatro horas, mais ou menos. Tem até um vendedor ambulante com uma caixa cheia de sanduíche natural e refrigerante numa outra, que ao som de chocalho vai gritando: - Olha o sanduba, é natural e faz bem! Quarenta graus. Meio-dia e meia. Parece loucura. Mas você já consegue ouvir: - Próximo! Mas próximo de que? E se for alguma seita satânica e que os membros são os que estão na fila e serão servidos como oferenda? Quem sabe uma entidade de doação de órgãos clandestina! Meu Deus, onde essa situação foi parar? Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. São apenas mais três na sua frente. Desistir jamais, afinal tantas horas não são assim de se jogar fora, ainda mais nesse sol de rachar. Sem contar a grana que gastou com o lanchinho que comeu umas cinco vezes. - Próximo! É você! Mas não resiste e sai em disparada, correndo feito louco. Mas a batalha ainda não está perdida. Assim como nos outros dias você sabe que ela estará lá, esperando por você e quem sabe dessa vez...
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