Quem nunca ouviu falar da expressão: "O Futebol é o ópio do povo?" Vou adiante, não só o futebol, mas a maioria das situações de grande coletividade. O povo precisa de ópio (do grego ópion, "suco de papoula", pelo latim opiu), de narcóticos e analgésicos sociais principalmente, quando sua subjetividade não dá conta de tantos desafios do cotidiano: violência, desemprego, relações instáveis, frustrações em geral. “Tudo isso se dissipa quando meu time disputa um jogo importante, quando vejo o Carnaval chegando ou quando me envolvo tanto com uma novela que esqueço o que é real e o que é ficção e paro minha vida para acompanhar seu último capítulo.” O que era entretenimento se torna parte real e o indivíduo passa a sofrer. Mas espere aí. “Meu time?” Sim, a influência é tão grande do futebol e desta coletividade que mesmo não sendo sócio da agremiação, tenho o time como minha propriedade. Propriedade de minha psique. Mas, o que faz um pai de família, conhecido como pessoa de bem pelos vizinhos e colegas de trabalho, quando coloca um uniforme de torcida e se transforma em um verdadeiro bandido e gladiador, desejando desde o primeiro minuto do jogo uma oportunidade de brigar para extravasar sua frustração com o mundo? Chamo isso de situação gregária, ou seja, quando o grupo me manda fazer coisas que não são exatamente as que quero, quando a força do grupo é maior que a minha individualidade. Isso ocorre quando minha auto-estima e subjetividades estão tão fracas que prefiro que a subjetividade e o desejo de um grupo prevaleçam sobre mim e assim me isento de qualquer responsabilidade psíquica sobre meus atos. Curioso não? Isso pode parecer polêmico e temos vários episódios na história relatados sobre a situação gregária. Assim também agiam respeitáveis pais de famílias da Alemanha. Carinhosos com os filhos, fiéis às mulheres e bons vizinhos, durante o horário comercial iam para os campos de concentração na Segunda Guerra Mundial matar judeus. E o pior é que realmente acreditaram que estavam do lado certo. Apesar de muitos serem coagidos, a maioria seguia a massa. Todos, principalmente, na adolescência passamos por situações gregárias quando queremos fazer parte de um grupo, quando queremos dizer não à família e dar vazão à nossa individualidade. O ser humano necessita de vida grupal, mas o grupo não deve impor seu desejo sobre o indivíduo de forma impensada, sem reflexão. É preciso de certa solidão, de recolhimento interior. Sempre participei de grupos, mas não sou gregário. Tenho alergia intensa de grandes coletividades. E só é realmente só quem não é boa companhia pra si mesmo. E você? Qual o seu ópio? Nota do Editor: Dr. Willian Mac-Cormick Maron é psicólogo e consultor em capital humano.
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