Com o crescimento da expectativa de vida e a mudança do perfil da família brasileira, cada vez mais a longevidade dos idosos se torna um grave problema. Nas classes mais esclarecidas da nossa sociedade é muito comum vermos hoje um grande grupo de idosos e pouquíssimas crianças. Tal mudança ocorreu de forma muito rápida e inesperada, surpreendendo quem não se programou para essa nova realidade. Hoje o grande problema das famílias é achar quem possa cuidar dos seus idosos, pois o filho único ou o segundo filho, quando existe, tem de trabalhar e se for casado, a sua esposa ou seu esposo, também trabalha. E quem fica para cuidar e tomar conta dos seus pais e, em alguns casos, tios ou mesmo avós? Sem falar do problema econômico, já que na maioria dos casos quando os idosos têm uma aposentadoria, esta mal dá para pagar a alimentação, médicos e remédios que todos eles necessitam. Os filhos, quando empregados, mal conseguem se sustentar, e com o tempo que o trabalho e principalmente a locomoção exigem, não sobra quase nada para a atenção e os cuidados dos seus velhos. Existe também um vasto contingente de idosos que não tiveram filhos e muitos solteiros idosos que não têm absolutamente ninguém para contar. No meu entender de interessado e estudioso sobre o assunto, se não se iniciar urgentemente um processo de preparação de profissionais (cuidadores) para atender a essa grande demanda com perspectiva de aumento generalizado, brevemente teremos um elevado número de brasileiros relegados ao seu próprio destino e abandonados à sua própria sorte. Se a sociedade e, sobretudo, o governo não implantar políticas públicas urgentes, esse será um grave problema, muito mais complicado que as preocupações ecológicas e a juventude - assuntos tão em moda no momento. Essa necessidade poderá vir a ser suprida com a criação de escolas técnicas de "cuidadores de idosos", onde se ensinariam noções básicas de como tratar quem tem idade, aprendendo a ministrar remédios, injeções, cuidados com a higiene e companhia. Esses profissionais deverão também ser preparados psicologicamente para conviver com velhos, pois estes são ranzinzas, rabugentos e muito chatos, em sua grande maioria, o que irá demandar muita paciência e espírito humanitário. É triste tal perspectiva real de futuro, mas se forem criadas regras e normas que regulamentem essa nova profissão, teremos um grande contingente de novos profissionais empregados, idosos assistidos e, principalmente, filhos desobrigados e sem complexo de culpa na questão de cuidados com os seus idosos. A legislação brasileira até pune o abandono de incapazes, como todos os muito velhos serão um dia, mas como atender à demanda dos idosos e às necessidades econômicas de todos nós? Fico no aguardo de sugestões para pensarmos juntos sobre este grave problema que já enfrentamos hoje e que, com certeza, nos afetará no futuro, cada vez mais. Nota do Editor: Nicolau Amaral (nicolau.amaral@nacom.com.br) é empresário da área de Comunicação.
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