A gravação sonora, surgida no século 19 e continuamente aperfeiçoada até os nossos dias, pode ser a solução para a grande crise de relacionamento entre a população e as emperradas repartições públicas. Algumas corporações privadas já a utilizam no “call-center” (atendimento por telefone) para evitar mal entendido e crise de relacionamento com a clientela. E avisam que a ligação “será gravada” para que, no futuro, se possa esclarecer todas as dúvidas. O serviço público brasileiro - federal, estadual e municipal - daria um grande salto de qualidade se o sistema fosse empregado em todo telefone custeado pelo dinheiro público. Seria um custo baixo diante dos problemas que a simples gravação e preservação das conversas resolveriam. Dinamizaria o atendimento arcaico e burocrático que tanto prejuízo traz à nação, e enquadraria o funcionário omisso, mal educado que não dá a mínima atenção ao contribuinte. E ainda permitiria a permanente avaliação e melhora dos métodos operacionais. Sabendo que todos os telefonemas são gravados, ninguém se atreveria a reclamar injustamente de mau atendimento na repartição e nem os funcionários atenderiam mal, certos da possibilidade de ter comprovado o procedimento incorreto e aplicadas as sanções administrativas cabíveis. Também acabaria o uso particular das linhas, que ficariam mais disponíveis para a finalidade que determinou sua instalação. E não há que se falar em quebra de privacidade, pois os serviços públicos não guardam privacidade pessoal, mas apenas funcional. Logo, bastaria que as gravações fossem controladas pelos órgãos internos da própria administração, como chefias, corregedorias e afins, para garantir seu uso regular e adequado. O avanço tecnológico e a popularização dos meios de captação de sons e imagens têm provocado uma verdadeira revolução. Câmeras já controlam edifícios, repartições e até vias públicas, tornando mais fácil a identificação de atos criminosos e a prisão de seus autores. As cidades passam a instalar microfones coletores de sons que, com a ajuda de satélite, identificam o local exato de onde são disparados tiros. Isso vai diminuir a incidência de balas perdidas. A sociedade vai agregando a parafernália eletrônica para sua defesa, na certeza de que, se não o fizer, todo esse aparato acaba usado só pelos criminosos, colocando o poder oficial em desvantagem. Surgido na ficção cinematográfica dos anos 80, o “big brother”, ou grande irmão, no filme representado por um ditador que vigiava o povo através de meios eletrônicos, deu argumento e formato para as dezenas, talvez centenas, de programas de televisão tipo reality show exibidos ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Mas, além da diversão, seus conceitos podem também consertar e eliminar vícios que vêm de muitas gerações e acabar definitivamente com as repartições públicas improdutivas, com usuários perseguidores e sistemas incompetentes. A vigilância – ainda que eletrônica – pode dar ao Brasil serviços públicos (e também privados) exemplares. Não permitirá falhas e evitará o jogo-de-empurra que hoje inviabiliza a solução dos problemas. Grave-se, pois, todos os telefonemas de órgãos públicos, já. Para o bem do Brasil... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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