Sempre fugi da cozinha. Não suportava a idéia de ver as mulheres na cozinha enquanto os homens divertiam-se em suas conversas durante os churrascos de domingo ou jantares ou almoços ou em qualquer outra ocasião. Sempre achei cozinha sinônimo de escravidão. E o tempo passou. E, curti o churrasco ao lado dos homens enquanto as mulheres escravizavam-se no pelourinho da cozinha falando sobre ponto cruz, receitas, sogras, empregadas, tendências de beleza, moda e comportamento, maridos e crianças. E, paguei jantares, cinemas, teatros, bares para os namorados enquanto lutava pela igualdade de direitos. Por que é que o homem é quem deveria pagar a conta ou pegar a mulher em casa ou convidar para sair? Fui lá, convidei, transportei, paguei. Já,... Em outra fase, dividi contas de jantares e passei a pagar somente pelo meu ingresso de teatro, de cinema ou a minha parte dos gastos de viagem. Até que, hoje, convido pra sair (se a curiosidade ultrapassar os andares do Copan) e não abro mão de pagar APENAS as minhas despesas, claro, que sem antes não fazer um charme para ver se o outro não se oferece para pagar TUDO. Confesso que muitas vezes, em festas e eventos "chatérrimos" me refugiei na cozinha. Certo dia fiquei concentrada como nunca, "coloquei a mão na massa", literalmente, e de tão compenetrada pedi que deixassem tudo por minha conta - foi um grande prazer, ter a cozinha só para mim - um total alívio. Foi neste dia que aprendi a não mais recusar convites. Afinal, qualquer coisa, é só fugir pra cozinha - diversão garantida e ainda por cima ganhar a fama de prendada, prestativa e ótima cozinheira. Sacou? Tudo bem, Paula e aí? Bom, estava na cozinha há pouco. E lembrei de um programa de tevê onde mulheres entrevistam mulheres na cozinha e ainda lembrei de mim e do meu relacionamento com a cozinha e quis escrever sobre o assunto. É na cozinha que trabalho em minhas telas, tiro molde de roupas, escrevo, escuto música, bato papo com os amigos, preparo performances, gasto horas no telefone e obviamente, cozinho. Finalmente, entendi que cozinha é lugar de criação. Aliás, não existe, em minha casa, lugar que seja mais arejado, iluminado, inspirador e MAIOR do que a cozinha. Descobri, enfim, que não era a cozinha que me incomodava mas a idéia de ter sogra, marido, crianças, empregadas. Será que com o tempo isto vai mudar, também? Espero que não, embora já concorde com a idéia de que namorar é tão bom, tão bom, tãaaaaaaaooooo bom...
Nota do Editor: Paula Tura é escritora, clown e em breve pintora. Mantém o blog: www.mercedesaemergente.blogspot.com.
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