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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
11/01/2010 - 07h51
Ocorrências policiais da província - Parte II
 
 
Por Laudilene Elizandra, da Reportagem Local

Um prato raso de fios de ovos e uma porção de lasanha à bolonhesa por pouco não levam à morte dois dos nossos mais respeitáveis munícipes – o Dr. Draconiano de Campos Pimentel, chefe do Posto de Arrecadação Tributária local, e o conhecido “Ditinho Puxa-Uma-Perna”, dono da fábrica de gatilhos.

Após chegarem às vias de fato em plena Praça da Matriz, por motivos até aquele momento não elucidados, as partes beligerantes dirigiram-se engalfinhadas à sede da “Tribuna Varonil” e transformaram em ringue a redação deste matutino. Os sopapos e insultos de baixo calão comeram soltos até a chegada o cabo Edélcio, que convertido ao islamismo tentava apaziguar os ânimos segurando numa das mãos o Corão (pela capa dura e espessura do volume, era quase um escudo à prova de balas) e na outra um par de algemas em aço temperado de marca Alcatraz.

Acender velas e entoar ladainhas talvez pouco valesse nessa hora de fúria cega e juras de morte, mas ainda assim se tentou. Dona Benedita, cônjuge do Dr. Draconiano, armou um altarzinho improvisado entre a mesa do editor adjunto e a do revisor. Terço à mão, entoava em rodízio Ave-Marias e Salve-Rainhas, invocando a intercessão do Santo Espírito ou de alguém em carne e osso, com osso e carne suficientes para apartar os dois desafetos.

Visivelmente consternada e com o raciocínio turvado pelas fortes emoções, Dona Benedita posteriormente relatou à reportagem a causa da desavença.

Como é de conhecimento geral, a indústria de “Puxa-Uma-Perna” andava tão claudicante quanto o seu malfadado proprietário. De acordo com Dona Benedita, a crise no setor de armas atravessa uma reação em cadeia. Do coldre ao cão, da alça de mira ao tambor – passando por uma infinidade de projéteis de calibres variados - um fornecedor vai transferindo o calote ao outro. O resultado são pistolas, rifles e metralhadoras com canos mas sem gatilhos, com tambores em perfeito estado mas sem balas que os alimentem. Dono de um estoque de 24,5 toneladas de gatilhos, e mantendo o quadro de funcionários em férias coletivas desde julho do ano passado, Ditinho não teve outra alternativa a não ser recorrer a subterfúgios emergenciais de sobrevivência. Foi quando lhe ocorreu a ideia da rifa, pomo da discórdia dos quase-óbitos. Ofereceu em permuta ao Buffet da Dinorah 750 g de gatilhos em troca das porções de fios de ovos e de lasanha para serem rifadas junto aos moradores, à razão de 5 reais o número. Quando da divulgação do resultado, na quinta-feira passada, “Ditinho Puxa-Uma-Perna” anunciou que o contemplado era ele mesmo, que empenhara os últimos 5 reais que tinha no bolso para fazer também sua fezinha.

“Não tenho culpa se fiquei com o prêmio. Não existe no regulamento das rifas cláusula que impeça o próprio rifador de adquirir um ou mais números para si próprio”, justificou-se ele ao nosso jornal. Chamado de “cafajeste” e “ordinário” pelo coletor de impostos, “Puxa-Uma-Perna” retrucou o insulto com uma risadinha sarcástica. Num acesso de desatino, Dr. Draconiano sacou de sua garrucha, absolutamente íntegra por ter sido fabricada antes da crise da indústria bélica. Ditinho teria visto Nossa Senhora mais cedo não fosse o tambor descarregado da arma do Doutor. A risadinha do rifador transformou-se em gargalhada, que acabou por contagiar todas as testemunhas da cena. A humilhação fez com que o Dr. Draconiano partisse para a luta corporal, única forma de reverter a peleja a seu favor.

O caso está nas mãos do Juiz de Pequenas Causas, que deverá dar seu parecer quando da volta de suas férias na Praia Grande. Mais notícias na próxima edição da “Tribuna Varonil”.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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