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Crônicas
25/01/2010 - 12h00
Elis: nossos ídolos ainda são os mesmos
Adilson Luiz Gonçalves
 

No roteiro de um dos últimos shows de Elis Regina havia a frase: “Agora, eu sou uma estrela!”. Texto premonitório digno dessa gaúcha que brilhou intensamente na cena musical brasileira, mas que poderia ter brilhado ainda mais.

Gostaria de ver a “Pimentinha”, hoje, com o mesmo esplendor maduro que vi em Elizeth Cardoso: a “Divina”, do alto de seus sessenta e tantos anos: sempre atualizada e inovadora; nunca perdida no tempo. Seria, com certeza, vinho da mesma estirpe nobre!

Poucos intérpretes podem ser comparados a Elis Regina: precoce, ousada, intempestiva e visceral. Na sua voz e interpretação nada era vulgar!

Com menos de vinte anos já participava de festivais, “nadando” num “Arrastão”. Por volta dos vinte apresentava “O Fino da Bossa”, nos bons tempos da TV Record, ao lado de Jair Rodrigues, o “Cachorrão”, e do “Zimbo Trio”, com os quais protagonizou um dos momentos culminantes da MPB: um pot-pourri antológico, registrado no disco “Dois na Bossa”, um dos mais vendidos de todos os tempos.

Elis cantou Chocolate (“Quem descerrar a cortina da vida da bailarina...”), Chico (“Quando olhastes bem nos olhos meus, e o teu olhar era de adeus.”.), Tom (“É pau, é pedra...”). Impulsionou a carreira de Milton Nascimento (“A primeira Coca-Cola foi, me lembro bem agora, nas asas da Panair.”), Ivan Lins (“Ó Madalena! O meu peito percebeu...”), Belchior (“Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.”), Zé Rodrix (“Eu quero uma casa no campo...”), Renato Teixeira (“É de sonho e de pó, o destino de um só...”), João Bosco (“Caía a tarde feita um viaduto...”)... Esteve ao lado de Rita Lee em momentos difíceis (“Sou mais ardida que pimenta!”). Deu até “Gracias a la vida!”, por Violeta Parra e Mercedes Sosa! Mas não soube se agarrar a ela tanto quanto deveria. Esqueceu que “viver é melhor que sonhar”! Partiu cedo demais... Que droga!

Depois de sua morte pouco foi acrescentado à música brasileira. Para os que apreciam qualidade “os ídolos ainda são os mesmos”, com poucas inclusões. Tim Maia, Djavan, Fafá de Belém, Simone, Oswaldo Montenegro, Legião Urbana, Titãs, Marisa Monte, Zeca Baleiro e Ivete Sangalo são algumas das honrosas exceções, num universo em que modismos fabricados ditam as regras.

São raros os intérpretes que sabem cantar, mas muitos os que apelam para sensualidade vulgar, exotismos grotescos ou apologia da marginalidade e drogas. Os músicos são substituídos por aparelhagens potentes e caras, mas que quase sempre são usadas para repetir uma mesma batida monótona, ensurdecedora e enervante, às vezes tudo junto.

O pior é que várias gravadoras investem alto em ritmos e intérpretes descartáveis, às vezes travestidos de críticos do “sistema” e revolucionários. Só que na década de 1960 – tempo em que “o bicho pegava” -, quem fazia música de protesto era Chico, Vandré... Hoje, dá vontade de protestar, sim! Mas contra a programação da maioria das rádios FM e programas de auditório. Antes, as músicas emocionavam. Hoje, dão vontade de chorar... de raiva!

Não dá para saber se as pessoas ouvem e compram isso por gosto, convicção, condicionamento psicológico ou por absoluta falta de opção.

Até algumas décadas a música brasileira pulsava! Hoje, vive de espasmos...

Pois é... Tudo isso só faz aumentar ainda mais a saudade de Elis.

Não é que eu ame o passado e não veja “que o novo sempre vem”, mas seria muito bom se esse “novo” tivesse um mínimo de qualidade de quem compõe e interpreta, mesmo sabendo “que nada será como antes...”.


Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.

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