(Homenagem ao dia do carteiro)
O cachorro é o melhor amigo do homem, com exceção do carteiro. Mas primeiramente vamos tentar explicar para essa juventude que só conhece internet o que é um carteiro. O carteiro seria uma espécie de provedor de e-mails biológico. Quando ele entrega as correspondências a pé, isto equivaleria a uma conexão discada e lenta. Se ele estiver de moto poderia ser considerado como uma conexão ADSL (banda larga), e o SEDEX é a internet empresarial, rápida, eficiente e muito mais cara. O carteiro poderia ser entendido (na ótica dos cães) como uma espécie de válvula de escape para o cachorro, que muitas vezes sofre de forma obediente a crueldade de seu dono, e por não poder pagar um psicólogo canino, resolve descontar suas frustrações no carteiro, visto que ele, na teoria, é a imagem e semelhança do seu dono. Ou seja, a profissão de carteiro acaba sendo um negócio bom pra cachorro, literalmente falando. Talvez o cachorro entenda que o carteiro é como algum tipo de ave de mau agouro, algo parecido com um corvo, como descrito pelo escritor Edgar Alan Poe. O cão já deve ter percebido que muitos dos papéis deixados pelos carteiros têm símbolos que quando unidos formam a frase: “C-O-N-T-A-S-A-P-A-G-A-R”, e que cada vez que seu dono lê essas mensagens escritas fica aborrecido, irritado, chegando algumas vezes a amassar o papel. E o que o dono do cachorro geralmente faz depois? Chuta seu pobre companheiro de patas, provavelmente por achá-lo culpado pelo carteiro ter conseguido entregar aquela infeliz mensagem para ele. Este é um dos ciclos da vida, o carteiro trás as contas para o dono da residência que se irrita e maltrata seu cão, que em contrapartida morde o carteiro em sinal de represália. Uma forma de contemporizar o problema de donos de cães que deixam os animais soltos ou mal trancados (facilitando ataques aos carteiros) seria fazer esses donos passarem um dia na função de carteiros auxiliares, entregando cartas somente em residencias com grandes e ferozes cães. Um bom castigo, já que eles sentiriam na pele (que é o primeiro lugar que sente a mordida dos cachorros) o problema enfrentado todos os dias pelos entregadores de cartas. Enfim, no mato sem cachorro em que vivemos, onde quem não tem cão caça como um gato, nós estamos rumando para um mundo sem cartas, ou carteiros, ou mesmo cachorros. E neste futuro, quando percebermos que a ideia de que tínhamos as cartas na mesa, era falsa, e que fizemos uma grande cachorrada com nosso fiel e amigável planeta, não haverá mais como reescrever a história, e a cartada final de nossa existência já estará derradeiramente selada. Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc@terra.com.br) é escritor.
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