Todo funcionário público, pela relevância de sua função, deveria ganhar muito bem para, como contrapartida, dar tudo de si pelo serviço e garantir, no mínimo, o bom atendimento ao contribuinte. Essa necessidade ninguém nega, mas pouco se pratica em todos os quadrantes do país. Governantes relapsos negligenciam na valorização, nos reajustes e na própria reposição inflacionária dos salários e, muitos deles, ladinamente, ainda usam o ardil de abonos e outras válvulas para achatar os ganhos da classe, cometendo verdadeiras injustiças. Como resultado, os funcionários são obrigados a realizar jornadas extenuantes, como a dos professores e médicos, ou estressantes e perigosas, como o bico feito pelos policiais. Em vez de oferecer salários compatíveis, os governantes colocam-se como maus patrões, verdadeiros algozes do funcionalismo, deixando esses milhões de profissionais entregues à própria sorte e passando por muitas privações. E ainda se dão ao luxo de fazer propaganda motivacional e de qualidade de serviços, como se tivessem realmente dado todas as condições para o funcionário trabalhar. Isso gera a desmotivação, o absenteísmo e a má qualidade dos serviços. Para enfrentar o descaso, setores do próprio funcionalismo e profissionais especializados acabam encontrando brechas legais com as quais obrigam o erário a pagar supersalários e geram outros problema – até escândalos – como o descoberto dias atrás no Paraná. É completamente descabido o salário mensal superior a R$ 100 mil a um escrivão, R$ 62 mil a um oficial de justiça, R$ 9 mil a um motorista, R$ 8 mil a um copeiro e um porteiro e R$ 6 mil a um ascensorista, como os pagos em dezembro último pelo Tribunal de Justiça do Paraná. Por mais eficientes e cheios de direitos que esses servidores possam estar, é muito dinheiro. Nada justifica isso, principalmente se levarmos em consideração que a maioria dos trabalhadores brasileiros ganha o salário mínimo, os aposentados privados são penalizados com proventos muito inferiores aos níveis de sua contribuição quando trabalhadores ativos e a esmagadora maioria dos servidores ganha aquém de suas necessidades básicas. A questão dos supersalários é uma verdadeira caixa preta e ocorre em todo o país. O caso do Paraná é a ponta do “iceberg” que aparece agora, mas não podemos nos esquecer de que já houve até um presidente da República que ganhou as eleições sob a bandeira de combater os ditos “marajás”. Recentemente tivemos a polêmica do teto salarial na magistratura. Mas, polêmicas e escândalos passam e os desmandos e exageros continuam firmes como rochas malignas. Precisamos colocar um paradeiro em todos esses desmandos. Fixar (e obedecer) um limite máximo para a remuneração do funcionalismo. Redistribuir as verbas para que todos os funcionários ganhem o suficiente para viver e não sejam obrigados a buscar fontes extras de sobrevivência. No dia em que isso ocorrer, o país terá resolvido muitos problemas. Principalmente a crise do serviço público, que não terá mais marajás e nem subalternos passando fome... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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