Um dos maiores desafios que a medicina vai enfrentar nesta nova década é, sem dúvida, o crescimento do número de novos casos de câncer. As organizações de saúde de diversos países vêm constatando um aumento crescente na incidência dos diversos subtipos de neoplasias. Para que possamos entender esta tendência, temos que ter em mente o mecanismo básico de surgimento do câncer. A maioria dos tumores se origina como fruto de falhas nos mecanismos de replicação celular, associadas ou não a estímulos carcinogênicos repetitivos. Este processo inicial ocorre em nível celular, de diversas formas, conseqüência da ação de carcinógenos ambientais, como o cigarro, por exemplo, ou, mais raramente, devido a mecanismos hereditários. Podemos então começar a entender o crescimento no número de casos de câncer através dos anos. De forma unânime, podemos eleger o cigarro como o maior vilão quando se trata de saúde. E com o câncer, isso não seria diferente. Estima-se que cerca de um terço das mortes por câncer seriam evitadas com a cessar do hábito de fumar. Inevitavelmente, o tabagismo se constitui no maior fator evitável de câncer. Qualquer passo na direção de uma vida livre da doença começa por parar de fumar. Também o abuso de álcool é implicado na gênese de alguns tumores. O uso comedido de bebidas alcoólicas também faz parte deste caminho. Outro fator que contribui para a elevação no número de casos de câncer é o próprio envelhecimento da população. Com o avançar da idade e a exposição a fatores carcinogênicos ao longo dos anos, a chance de se desenvolver uma neoplasia cresce. Logo, com o aumento da expectativa de vida temos experimentado um crescimento das doenças relacionadas com a idade e, dentre elas, alguns tipos de tumores. Entretanto, mesmo com esse aumento expressivo no número de casos, é importante salientar a melhora dos métodos de detecção precoce e diagnóstico das neoplasias que vêm ocorrendo nos últimos anos. Com o avanço nos métodos de rastreamento dos diversos tipos de tumores, estamos mais aptos a fazer mais diagnósticos, cada vez mais precoces e, portanto, com aumento nas taxas de cura. E nós, de forma individual, o que podemos contra o câncer? Levar uma vida saudável é o melhor caminho para se prevenir da doença. A atividade física é um ótimo início. Uma dieta pobre em gorduras e rica em frutas e vegetais também pode ajudar na prevenção de cânceres de intestino, próstata e mama. A exposição exagerada ao sol é outro fator causal importante, neste caso, relacionado aos tumores de pele. A atitude de evitar a exposição ao sol entre dez horas da manhã e quatro horas da tarde, além do uso de protetores solares, deve ser amplamente adotada. A maior parte desta exposição se dá durante a infância e a adolescência, e tais medidas devem ser também estimuladas nesta época de vida. Cabe também lembrar que a relação de alguns tumores e vírus já foi estabelecida, como a relação do HPV e do câncer de colo de útero ou do vírus da hepatite B e o hepatocarcinoma. A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis é parte importante de uma política de prevenção ao câncer. Como pudemos ver, o câncer é uma patologia de múltiplas causas e características. E a prevenção é sem dúvida a melhor maneira de combater a doença. É para este caminho que desejamos ir. Ressaltamos também que os métodos de tratamento e as taxas de cura melhoraram muito nos últimos anos, especialmente nas fases mais precoces da doença. Desta forma, estimulamos que o rastreamento dos principais tipos de tumores seja realizado. Além da prevenção, a detecção precoce da doença é um passo fundamental para aumentar nosso sucesso no combate ao câncer. Nota do Editor: Dr. Luiz Flávio Coutinho é oncologista da Oncomed.
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