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Opinião
25/03/2010 - 17h04
Os perigos de uma chapa "café com leite"
Guilherme Stolle Paixão e Casarões
 

Não, não estamos na República Velha. Ainda assim, insiste-se na hipótese, dentro do PSDB, de que uma aliança Minas-São Paulo seria muito bem municiada para enfrentar as difíceis eleições presidenciais deste ano. Sem lhes tirar a razão, é importante avaliar as implicações e custos que uma eventual chapa "café com leite" pode acarretar ao Brasil, à governabilidade imediata e até mesmo ao futuro do sistema político. Em primeiro lugar, vivemos num Brasil menos concentrado no sudeste, em termos de PIB, renda ou mesmo população, do que há três décadas. Seja pela nova fronteira da soja e da pecuária, pelo turismo ou o desenvolvimento local, regiões que outrora repeliam pessoas hoje as recebem, com condições mínimas de emprego e educação.

Outro fator a ser levado em conta é que os partidos estão se tornando cada vez mais nacionais. Por mais que se conserve a velha crença de que o PT e o PSDB são partidos essencialmente paulistas, enquanto o DEM encontra sua força no nordeste, a progressiva consolidação de nosso sistema partidário dá-se em direção à nacionalização. Observa-se, portanto, o surgimento de quadros políticos de peso nacional fora do eixo sul-sudeste, o que torna nosso cenário político não somente mais complexo, como também mais rico. Não se faz mais necessária aquela fórmula, já batida e pouco eficaz, de candidato à presidência do "sul maravilha" levando consigo um vice do norte ou nordeste. O número de potenciais candidatos à presidência, com isso, cresce visivelmente. Com eles, há a demanda de reformulações dentro dos partidos e entre eles.

Tais reformulações são importantes por diversas razões, mas cito algumas delas para suscitar o debate. Houve um movimento, observado desde as eleições de 2002, no sentido de concentrar as candidaturas no sudeste, e só lá. Em 1998, as dobradinhas FHC-Marco Maciel ou Lula-Brizola ainda resistiam a isso. No pleito seguinte, ambas as candidaturas de peso, Serra-Rita Camata e Lula-José Alencar, foram baseadas na região mais rica do país. Garotinho fez uma campanha quase inteiramente calcada em sua projeção na política fluminense, na qual o vice José Antonio Figueiredo, do PSB maranhense, importou pouco. Nem mesmo Ciro Gomes, que já havia encabeçado uma chapa com o pernambucano Roberto Freire, resistiu à tentação de ampliar a base de apoio e coligar-se com o PTB, indicando o paulista Paulinho da Força Sindical para vice.

Em 2006, a lógica se manteve. Alckmin, mais até que FHC - que fora ministro de Estado - construiu sua campanha em cima de sua popularidade como governador de São Paulo. Para vice, indicou o pefelista José Jorge, um "peso-médio" mesmo em seu estado natal, Pernambuco. Lula, um paulista político, manteve sua chapa com o mineiríssimo Alencar. A alagoana Heloísa Helena precisou do apoio de um carioca, César Benjamin, e a única chapa relevante que prescindiu do sudeste, Cristovam Buarque-Jefferson Péres, não obteve votação expressiva.

Isso poderia significar duas coisas: a eficácia de uma chapa do sudeste, por um lado, e o fracasso de alternativas extra-sudeste, por outro. A constatação poderia indicar, à primeira vista, as vantagens da fórmula "puro sangue sudestino", ou a alternativa útil "sudeste maiúsculo + nordeste minúsculo". Contudo, ela também deixa míopes estrategistas e políticos que, no afã da vitória, por vezes esquecem que o Brasil é muito maior do que uma região, por mais projeção que tenha.

Não defendo uma chapa que marginalize o sul-sudeste. Muito pelo contrário: os grandes colégios eleitorais estão por aqui, e daqui não sairão tão cedo. Ainda assim, uma chapa como a de Dilma Rousseff e Michel Temer me parece essencialmente míope. Ela, uma mineira-gaúcha, e ele, paulistano da gema, deixam de fora quadros interessantes do PT e do PMDB que não necessariamente estão viciados pelo sistema e que poderiam ser projetados nacionalmente por meio de uma meticulosa construção da mídia, como é o caso dessa (suposta) chapa para 2010.

Esse talvez seja o equívoco a médio prazo do PSDB: por mais forte que pareça ser uma dupla "puro sangue" de governadores dos dois estados mais ricos do país, contribui-se para uma política eleitoral repetitiva e pouco diversificada onde políticos de crescente protagonismo nacional são relegados, nas eleições, ao papel de coadjuvantes - ou pior, de figurantes. E justamente por não estarmos na República Velha, com todos seus vícios e arcaísmos, defendo que se olhe para fora do sudeste em busca de alternativas às forças políticas que praticam uma espécie de "coronelismo da metrópole" e nos legam uma incômoda falta de opção. A alternância de poder, um dos pilares da democracia moderna, não diz respeito somente aos nomes de candidatos nas urnas, mas também aos estados de onde vêm seus interesses.


Nota do Editor: Guilherme Stolle Paixão e Casarões é professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC).

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