É ridículo um país rico produtor de petróleo ter de pedir à população que apague a luz para economizar eletricidade. Petróleo é um dos insumos das usinas térmicas. Quem o tem pode construir usinas para evitar que o povo fique sem os quilowatts que necessita para seu conforto. Apesar da instabilidade política, a Venezuela foi durante muitos anos invejada pelos demais países sul-americanos, inclusive o Brasil. Seu petróleo permitiu o registro de surtos de desenvolvimento e, inclusive, a filiação do país à rica OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ainda hoje grande termômetro da economia mundial. Apesar das vantagens petrolíferas, o vizinho país não conseguiu fazer do óleo um indutor de estabilidade econômica e política. As desigualdades sociais acabaram permitindo a chegada ao poder do nacionalista Hugo Chávez, e este armou uma arapuca que o permitirá continuar governando indefinidamente. Do jeito que conseguiu armar a coisa, só poderá ser apeado do poder por um golpe de estado mas, mesmo assim, isso já foi tentado em 2003 e não deu certo. Chávez reagiu e passou a perseguir os adversários. E ainda fez seguidores, como o boliviano Morales, o equatoriano Correa e o hondurenho Zelaia, que quebrou a cara apesar da ajuda do Brasil. Há quem diga que Lula e seu grupo também admiram Chávez. Mas, se isso for verdade, não podem confessar, pois suas responsabilidades são muito grandes e uma vinculação dessas poderia trazer problemas. Ninguém pode negar que Lula é um vitorioso. Do paupérrimo retirante nordestino, que passou fome, chegou à presidência da República e, no último ano do seu governo, desfruta de níveis de popularidade invejáveis e nunca experimentados por outro governante em fim de jornada. Não devemos nos esquecer, no entanto, que ele “dá mole” a Chávez, Morales, Correa e a outros malucos do gênero. Talvez fosse mais prudente mantê-los mais à distância e chamados às responsabilidades. A última “chavada” – perdoem o trocadilho – de Lula é permitir que os malucos e radicais do seu governo tentem reabrir a caça às bruxas e reformem a aplicação da Lei da Anistia, para punir apenas seus adversários do passado e deixar impunes todos os militantes de esquerda que, na luta armada, cometeram atrocidades até mais graves do que os ditos torturadores a serviço dos governos autoritários. Se o permitir, Lula finalmente poderá ser comparado aos seus inconvenientes amigos da Venezuela, Bolívia e Equador. Ficará faltando apenas mandar prender adversários políticos e dirigentes dos veículos de comunicação que não escrevem conforme a sua cartilha. É preciso separar muito bem o joio do trigo. Esses radicais podem até servir para seus infelizes países. Aqui no Brasil, Lula – e quem vier no seu lugar – tem de respeitar as instituições, o povo e a democracia. Do contrário, de nada terão valido todas as nossas lutas... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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