No mercado desde março de 2003, o veículo “flex” - que consome tanto álcool quanto gasolina -, é um sucesso. Redime a indústria automobilística brasileira do fiasco do Proálcool, dos anos 70. A tecnologia é tão boa que, além de expandir-se para o exterior, ainda é aplicada com sucesso em boa parte dos veículos originalmente concebidos para o consumo de gasolina. Dos novos, 80% saem de fábrica preparados para rodar no sistema bicombustível. Mas, se a indústria acertou nos veículos, o mesmo ainda não ocorreu com a estrutura de abastecimento. O governo e os órgãos controladores não têm sido competentes para desenvolver uma política saudável que seja, ao mesmo tempo, atrativa ao produtor e confiável ao consumidor. Tempos atrás os produtores, descapitalizados, foram obrigados a desovar seus estoques a preço vil e o comércio desregulado do setor promoveu guerras de mercado e outras atividades predatórias que levaram o preço do álcool a níveis atrativos ao consumidor, mas inseguros e irreais frente a princípios econômicos aceitáveis. Nos últimos meses, em razão da entressafra e da alta do preço internacional do açúcar (feito com a mesma matéria-prima do álcool), os preços dispararam. O álcool tem sido pesquisado como combustível automotivo desde o começo do século passado, ainda nos pioneiros Ford T. A gasolina só prevaleceu em função dos baixos preços do petróleo, assim mantidos até a grande crise de 1973. Já nos anos 70, diante da brutal alta de preços da gasolina, o Brasil fez seus primeiros carros a álcool, que não deram certo em razão da falta de tecnologia e, também, pelo despreparo tecnológico e político em relação ao próprio álcool. Foi o primeiro passo. Hoje temos solucionado o problema dos veículos. Mas ainda falta ao governo a montagem do grande quebra-cabeças ligado à produção e distribuição do álcool. Há que se encontrar uma forma confiável de evitar o achatamento dos preços na safra e sua elevação desmedida na entressafra. Talvez estoques reguladores sejam a solução, conjugados com um sistema de fiscalização eficiente que evite fraudes e descaminhos. O produtor de cana e o usineiro que fabrica o álcool não podem viver em sobressalto, sem saber qual será o resultado do seu trabalho. E também não poderá ficar solto para ganhos acima do aceitável. Da mesma forma, o comprador de veículos precisa ter a garantia de que sempre terá à sua disposição o combustível para encher o tanque e pagará por ele um preço competitivo e compatível com o mercado. Se isto não vier a ocorrer com a maior rapidez, o setor caminha para o colapso e a crise fatalmente se alastrará a toda a economia. A questão energética e a logística de transportes – públicos ou individuais – são ingredientes estratégicos do país e da economia. Não basta o paliativo de aumentar ou diminuir a quantidade de álcool na gasolina para atender as oscilações de demanda. Precisamos de soluções amplas e definitivas. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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