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Opinião
02/04/2010 - 06h00
O apagão do futuro
José Henrique Nunes Barreto
 

A crise social, política, econômica e cultural que, sistêmica e globalmente, o Brasil enfrenta, reflete na importância de nossas escolhas. Isto é, o grave desequilíbrio estrutural brasileiro interfere na qualidade e em nossa incapacidade de escolher as melhores opções. Preocupo-me com um processo decisório de Estado inspirado em princípios e valores que sustente o futuro da nação. Trazendo essa preocupação para o universo do nosso dia-a-dia, fica mais evidente a incerteza do futuro, ou mesmo, a possibilidade de um amanhã.

A inércia e o despreparo das denominadas elites nacionais são muito preocupantes. A proximidade de uma importante eleição não estimula sequer a mobilização organizada da sociedade, muito menos sensibiliza a sociedade industrial, e isso certamente ocorre pela ausência de credos, lideranças e entendimento do atual momento e da nossa situação. A apatia e o predomínio de interesses obtusos tem sido a regra. Hoje é mandatório discutir a crise do Estado, seu papel, atuação e a construção do futuro. Os tempos exigem alterações profundas nas relações socioeconômicas, por meio de reformas essenciais, historicamente desprezadas. As normas existentes, os regulamentos e os direitos e deveres continuam reproduzindo princípios cumulativos da primeira fase da nossa industrialização. Não fizemos as reformas básicas e corremos o risco de ressuscitarmos ideias que causaram alguns problemas que estamos vivenciando. A prova mais severa é a recorrência no discurso político por um Estado forte, intervencionista, e, por força de suas consequências, devastadoramente antiempreendedor. É sabido, universalmente, que o Estado de extração democrática se configura como indutor. O muro de Berlim é um fato histórico. Aqui, os candidatos confundem o papel do Estado e a extensão da sua atuação com o mau desempenho da gestão de Governo. É notória que a administração governamental, usualmente, tem baixíssima execução e isso, obviamente, é um problema típico de gestão. A magistral miopia no assunto agravará muitíssimo a capacidade de entrega e de execução. Em resumo, temos de exigir uma melhor gestão do Estado, clareza de seu papel e um direcionamento estratégico para o futuro.

A consequência perversa adicional do Estado interventor é que esvaziará o ainda incipiente empreendedorismo nacional. Quando o Estado intervém, de forma absoluta, o empreendedorismo morre. Ou seja, o Estado mais forte, mais intervencionista, torna o País mais pobre. Dessa forma, recrudescerá o casuísmo, o arbítrio subjetivo e anárquico nas relações econômicas dos ambientes de negócio. De fato, hoje já se usa a poupança pública através do BNDES quando, arbitrariamente, se dirige os recursos para setores, corporações ou empresas escolhidas por critérios discricionários, desconhecendo ou ignorando o tecido do empreendedorismo das médias e pequenas iniciativas no País. Essa prática, ao longo do nosso processo histórico de industrialização, é tenazmente repetida. O Estado faz as escolhas, dita o prioritário, e as necessidades estratégicas das médias e pequenas empresas do País naufragam. Concluindo, o que fez o BNDES pela "educação de qualidade" numa Sociedade de Conhecimento? Estamos, simplesmente, falando do alicerce consagrado do desenvolvimento, a "educação de qualidade". Ora, se o BNDES não fez, contribuiu para as incertezas do amanhã.

Hoje, se desconhece qual seja o ideário do PSDB, se é que tem. A omissão tem sido a regra como tática política. Existe um candidato tucano? Qual é o projeto do PSDB para o País? Ao mesmo tempo, o governador José Serra desistiu de privatizar a CESP, Dilma Roussef não faria melhor. Será que Dilma quer o Leviatã? E José Serra inovará com um técnico-burocratismo estatizante? Os dois modelos são inservíveis para o Brasil. Seremos remetidos a um encontro com a primeira metade do século XX, quando caminhamos céleres para a segunda década do século XXI. O PT acena com o Estado forte e o PSDB, como grande força político partidária, para decepção daqueles que cultivam princípios liberais, não encontra arrimo. Encontra sim, o patrocínio e atitudes por um Estado ainda mais técnico-burocrata. Essa plutocracia tem raízes profundas e historicamente fincadas, e contribui para a anulação da cidadania e do Estado plural, dinâmico, criativo. O empresariado perde com isso o gene problematizador, elo do diálogo e representante das inquietações e provocações. Perde com isso também sua vocação natural para posicionamentos lógicos-formais, razão prática e juízos analíticos.

Nossas instituições representativas estão esvaziadas, quando não capturadas pelo modelo do Estado forte ou técnico-burocrático. Subserviente somente a interesses bem definidos, entregaram às algemas o próprio corpo e a alma empreendedora ao vazio. As atuais lideranças são fracas e nos penalizam pela falta de compromisso, conhecimento, preparo ou ligação material com a própria atividade. Ou, ainda, por adotarem visões e conceitos obsoletos. Estamos desorganizados e paralisados por esse ambiente de miudezas e pobreza de princípios, nos quais estão estabelecidos que os projetos pessoais e os ritos comuns no culto à personalidade e egolatria, sustentados pelo patrimonialismo execrável, são a regra. O Brasil precisa de um projeto inspirado em novos princípios e valores, que remova as incertezas que nos espreitam, ou mesmo, que impeça a possibilidade de um crepúsculo do amanhã.


Nota do Editor: José Henrique Nunes Barreto é industrial, economista, presidente do Sindicato da Indústria de Fumo do Estado de São Paulo (Sindifumo) e Diretor eleito da FIESP.

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