O triste relato escrito em vinte e poucas linhas numa folha de caderno: duas crianças da cidade de Canoas/RS, na semana atrasada, solicitaram ajuda de policiais militares para que fechassem uma casa de jogos e libertassem sua mãe do vício. Na melancólica carta os menores disseram que levantam de madrugada para fritar pastéis para que sua progenitora vendesse para tirar o sustento da família, só que todo o dinheiro obtido com a comercialização era utilizado em apostas em uma casa de jogos. Contam na missiva que a luz e a água fora cortada e a televisão vendida e que passam fome além de serem espancados diariamente pela mãe na fúria por ter perdido no jogo. Infelizmente este drama está presente em toda e qualquer cidade e com certeza se intensificará nos próximos meses se nada for feito por nós. Sob o argumento da criação de trezentos mil empregos e uma arrecadação de dois bilhões impostos, alguns parlamentares com a proximidade das eleições e na ânsia de obterem arrecadação e votos, sinalizam com a provável legalização dos bingos. Esta “nova visão” prevê a fantasiosa participação da Receita Federal que já tem dificuldades em fiscalizar, teria mais está árdua tarefa de verificar periodicamente a receita auferida pelos Bingos. Impraticável! Ora, todos têm conhecimento, mas não custa repetir: a contabilização dos lucros nos Bingos é de difícil controle, facilitando o superfaturamento e conseqüentemente a legalização do dinheiro obtido em atividades ilícitas e de corrupção. No mesmo sentido os jogos de azar prejudicam uma grande parte da população que induzida ao vício do jogo, empobrecem e destroem suas famílias, além de onerar ainda mais o precário sistema de saúde no tratamento dos jogadores compulsivos. Criar a idéia de que Bingo é imprescindível para população e a saída para o desemprego é compartilhar da sonegação fiscal e da lavagem de dinheiro, é desconhecer o trabalho daqueles profissionais que afirmam ao comparar o vício do jogo ao da cocaína e do álcool e relacionam como uma atividade nociva que favorece aos ilícitos penais. Portanto, tenhamos a iniciativa de protestar, pois a liberação dos Bingos não é bom para o Brasil e muito menos para nós. Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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