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Opinião
07/04/2010 - 05h44
A “Faculdade de Direito da USP” fecha as portas
Cacá Bizzocchi
 

A escola do Largo São Francisco formou tantas personalidades que hoje seria difícil imaginar a História do Brasil sem personagens como Monteiro Lobato, Washington Luís, Franco Montoro, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Ulysses Guimarães, entre outras dezenas. Se a faculdade das Arcadas interrompesse suas atividades durante as ebulições políticas em várias fases históricas, os rumos do país poderiam se comprometer.

Esse exercício de imaginação não precisa ser feito ao adentrarmos o mundo do voleibol. A poucas semanas do encerramento da Superliga, o Brasil Vôlei Clube – mais conhecido pelos aficionados do esporte nacional como Banespa, nome que vem desde quando o clube do bairro paulistano de Santo Amaro resolveu montar uma estrutura capaz de sustentar aquele que viria a ser o esporte coletivo dito amador mais vitorioso do país – está em vias de acabar. A “Faculdade de Direito da USP” do voleibol brasileiro virará passado se um patrocinador não se dispuser a custear a continuação desta história.

Desde que o banco Santander anunciou o fim do patrocínio às equipes principal, juvenil e infanto-juvenil sediadas em São Bernardo do Campo (SP), os profissionais envolvidos – principalmente o presidente do clube, José Montanaro Júnior – vêm se empenhando em bater às portas das empresas e apresentar o projeto para um possível apoio. Um ano de vãs tentativas para manter 78 profissionais (entre técnicos, atletas e demais funções) atuando no mercado de trabalho.

Sem perspectivas, as categorias de base foram desmontadas e os atletas que vinham sendo formados por alguns dos melhores técnicos do país foram dispensados. Depois de quase 30 anos, a estrutura que oferecia aos jovens talentos bolsas de estudo, seguro-saúde, transporte, moradia, refeições e ajuda de custo (de acordo com a Lei Pelé), além de nutricionista, psicólogo, preparadores físicos e acompanhamento diário de supervisores, acabou!

Para se ter uma ideia da magnitude do trabalho desenvolvido durante quase três décadas, a edição deste ano do principal campeonato do país tricampeão olímpico na modalidade tem 298 atletas inscritos pelas 17 equipes participantes. Destes, 94 passaram pelo Brasil Vôlei Clube e 66 foram formados nas categorias de base ao longo da existência do projeto. Em termos porcentuais, podemos dizer que 32% desfrutaram de uma equipe de alto nível como o Brasil Vôlei Clube para poderem se firmar como profissionais, e 22% dos jogadores em atividade no Brasil talvez não viessem a ser atletas não fosse a estrutura que lhes foi oferecida quando ainda davam os primeiros passos na carreira. Fora aqueles que estão no exterior, como é o caso de de Ricardinho e Raphael Oliveira, ambos levantadores, o primeiro do Sisley Treviso, campeão olímpico e mundial, e o segundo, do Trentino, clube que é o atual campeão europeu e mundial.

Os números são também significativos quando analisamos a participação do antigo Banespa na história de sucesso alcançada pelo voleibol nacional. Do início da década de 80 – época da montagem do projeto nos moldes que sustentou até o final de 2009 – para cá, 120 garotos saíram do clube para defender as seleções infanto-juvenil e juvenil que deram ao Brasil vários títulos mundiais e o respeito da comunidade internacional. Destes, 23 chegaram à seleção principal.

Da seleção brasileira de 92, Marcelo, Maurício, Tande, Giovane, Paulão, Janélson, Douglas e Amauri tiveram no Banespa a oportunidade de evoluir a ponto de poderem ser campeões olímpicos daquele ano em Barcelona. Em 2004, em Atenas, foi a vez de Maurício, Nalbert, Giovane, Serginho, Gustavo, Rodrigão e Ricardinho se valerem dessa oportunidade para ganhar o segundo ouro no masculino.

O Brasil Vôlei Clube contribuiu não só para a formação de atletas, mas também para uma geração de técnicos: José Roberto Guimarães (seleção brasileira); Paulo Coco (Pinheiros / Mackenzie); Douglas Chiarotti (Vivo / Minas); Carlos Castanheira, o Cebola (Sky / Pinheiros); Talmo (Montes Claros); Mauro Grasso (Blaüsiege l /São Caetano); Giovane Gávio (SESI); Celso Mariano (Santo André); Léo (Volta Redonda); além do treinador atual da equipe, Rubinho (também assistente da seleção masculina principal). Todos foram técnicos e/ou atletas do clube.

Um dos símbolos mais marcantes da força do projeto era a peneira, o processo de seleção, que contava com a participação de jovens de todos os estados brasileiros. Foram 25 edições das quais participaram, desde 1984, cerca de 20 mil rapazes com idade entre 13 e 18 anos. Mais de mil foram selecionados e tiveram a chance de vivenciar o que de melhor poderia existir para sua formação esportiva. Em 2009, a peneira foi suspensa, pelos motivos expostos acima.

Dezenove títulos paulistas, sete brasileiros, seis sul-americanos e dois vice-campeonatos mundiais virarão peças de museu se alguma empresa não vislumbrar num modelo desse nível uma oportunidade de expor sua marca. Tudo pronto, seguro e com resultado mais que comprovado às mãos de um empresário que se interesse em formar uma parceria rentável para ambos os lados.

Não se trata de favor, nem é caso de socorro governamental – como já aconteceu às instituições bancárias num passado não tão remoto –, apenas de um produto de excelente qualidade e retorno garantido de marketing. Uma iniciativa que remonta à razão do voleibol brasileiro chegar onde está. Uma história de excelência que virou ouro, muito ouro. E não pode virar pó.


Nota do Editor: Cacá Bizzocchi é técnico de vôlei, professor de Educação Física, jornalista, comentarista da BandSports e da Band, e colaborador da Photo&Grafia Comunicação. E-mail: bizzocchi@photoegrafia .com.br.

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