Depois de quatro décadas, mantendo a regularidade da autossuficiência do abastecimento nacional, a Petrobras volta a importar gasolina, o derivado do petróleo mais conhecido da população. A quantidade necessária virá da Venezuela. Também, a medida é decorrente da menor oferta do etanol na safra 2009/10 (4 bilhões de litros), resultado das copiosas chuvas nas lavouras canavieiras, interrompendo a moagem da cana, além do desvio de parte do caldo extraído para a produção do açúcar, destinado às exportações. Com preços mais altos do etanol nos postos (R$ 1,60/litro), os proprietários dos seis milhões de veículos flex em circulação no país (95% das atuais vendas), migraram para o derivado do petróleo (R$ 2,50/litro). O pico do preço do etanol hidratado usado nos carros “flex” foi de R$ 1,20/litro, em janeiro de 2009. A situação deverá normalizar-se nos meses de abril e maio, com o início da safra canavieira de 2010/11 do centro-sul, que está sendo antecipada. A previsão do crescimento do etanol é de 127%, saindo dos atuais 27 bilhões para 63 bilhões de litros, em 2019/20. Se houver a sobra do etanol anidro, a mistura à gasolina deverá retornar aos níveis anteriores de 25%, hoje em torno de 20%, o que melhorará, sensivelmente, o índice da octanagem do combustível extraído do petróleo, com a eliminação do chumbo tetraetila da gasolina, substância altamente venenosa e causadora de intoxicação. Conforme o estudo da Unicamp, o etanol brasileiro eliminou mais de 10% das emissões dos gases do efeito estufa (GEE) do Brasil e poderá atingir perto de 20%, em 2020. Comparado à gasolina, o etanol representa uma redução de, aproximadamente, 80% das emissões do GEE. Desde 1980, o então Conselho Nacional do Petróleo (CNP) normatizou a mistura do etanol anidro à gasolina, propiciando à indústria automobilística o aumento da taxa de compressão e eficiência dos motores. No período de 2008 para 2009, o consumo do etanol cresceu 24%, enquanto a gasolina evoluiu apenas 0,9%. Fica evidenciado, mais uma vez, que falta, entre nós, a adoção de uma política reguladora dos estoques dos combustíveis, assegurando a credibilidade do abastecimento, como acontece nas grandes nações, onde a quantidade armazenada é suficiente para no mínimo três meses. Com 14 unidades refinadoras construídas pela Petrobras e 3 particulares, o Brasil tem uma capacidade média de refino do petróleo de 1,9 milhão de barris diários e processa 1,7 milhão, à cada dia. No ano passado, a produção média da Petrobras no País e no exterior foi de 2,5 milhões de barris diários de óleo cru. Estimativas recentes apontam que, em 2020, a nossa principal empresa do Estado estará extraindo 4 milhões de barris dias de petróleo. Contudo, a nação necessita, com urgência, construir novas e modernas refinarias, a fim de reverter o quadro mencionado. Desde 1986, com a inauguração da refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos, não houve mais construção de parques de refino do petróleo na nação brasileira. Há dias, a Petrobras declarava que iria manter os quatro projetos de grandes refinarias, que estão no seu planejamento estratégico: Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Maranhão e se elas não forem construídas: “o país se tornará até o fim desta década enorme importador de produtos refinados”. 10% dos 38 bilhões de litros de diesel consumidos ao ano são da mesma forma importados, à semelhança da gasolina, para o uso em transporte de passageiros e de carga. Para os especialistas, os preços do petróleo oscilarão entre US$ 60/barril e US$ 80 nos próximos anos, o que redundará, acentuadamente, no aumento das despesas de importação de gasolina e do diesel, até a desejada autossuficiência no refino. Contudo, as projeções dos preços do petróleo são de difícil consecução. Hoje, o preço do barril do combustível fóssil é da ordem de R$ 80/barril. Nota do Editor: Luiz Gonzaga Bertelli é Diretor e Conselheiro da FIESP, Presidente do Centro de Integação Empresa-Escola (CIEE) e Presidente da Academia Paulista de História (APH).
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