Para Abrafarma, medida pode alavancar comércio de medicamentos falsos
A saúde pública pode ficar doente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a falsificação de medicamentos vem ganhando ares epidêmicos. Mesmo os fabricantes tradicionais têm dificuldades de identificar que determinado remédio seja um clone de um produto legítimo. Diante de um cenário cinzento, o fracionamento de medicamentos pode impulsionar ainda mais esse comércio ilegal de falsificados. Somente em 2009, foram apreendidas pela Anvisa mais de 300 toneladas de medicamentos irregulares, que movimentariam em torno de R$ 10 bilhões por ano. As falsificações entram no Brasil a partir de países asiáticos. O problema não para por aqui. Dados do Sindicato das Empresas de Transportes de cargas de São Paulo e Região (SETCESP) apontam que, em 2009, aconteceram 577 roubos de veículos transportando medicamentos. “Pior do que a perda econômica são os graves efeitos sanitários. Depois do assalto, o caminhão roubado fica dias escondido em local ignorado, muitas vezes sob sol escaldante ou sob grande umidade. O medicamento é depois desovado em todo o país, mas terá sua eficácia totalmente comprometida, uma vez que tal estoque foi mantido de forma inadequada”, explica Sérgio Mena Barreto, presidente-executivo da Abrafarma - Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias. E é praticamente impossível identificar essa ocorrência com os sistemas atuais de controle. O fracionamento de remédios seria apenas uma alternativa que potencializaria esse problema, já que é totalmente incompatível com as medidas de segurança e rastreabilidade. “Ao obrigar que o farmacêutico abra a embalagem original, mesmo a desenvolvida especialmente para o fracionamento, e entregue os comprimidos em pequenas embalagens fracionadas e não rastreáveis, quebra-se todo o ciclo de segurança pretendido”, pontua Barreto. O suposto e ainda obscuro benefício econômico da compra de quantidade menor de cápsulas e comprimidos, para uso num determinado período, perde todo o sentido frente à realidade da falsificação e roubo de medicamentos. O risco de levar um produto ilegítimo para casa aumentará de modo a ficar absolutamente incontrolável.
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