O processo educacional existente em qualquer sociedade é responsável, entre outros fatores, por perpetuar por meio de gerações os costumes, hábitos e formas de agir e se comportar em sociedade. Ao educar uma criança, seja em uma grande metrópole, seja em uma remota aldeia africana, os mais experientes procuram passar aos descendentes um caminho pelo qual possam viver dentro daquela sociedade e serem bem sucedidos no convívio social. Neste contexto, entra um conceito de referência estética interessante, ou seja, sempre acreditamos que a educação de uma classe mais alta é melhor que a de uma casse mais baixa. No entanto, enganam-se os que pensam assim. Onde quero chegar? Quero falar de educação financeira. Todos, independente das classes sociais, devem se preocupar em ser educados financeiramente, com o objetivo de ter uma vida financeira saudável e produtiva. Na família ou no círculo de amizades, é comum vermos pessoas que já tiveram muito e perderam dinheiro, mesmo sem terem feito grandes apostas. Do mesmo modo, vemos pessoas que sempre tiveram uma vida apertada, levada na ponta do lápis e, ainda assim, após 30, 40 anos de árduo trabalho, sofrem angústias em seu orçamento doméstico. Não é essa a cultura que devemos passar adiante! O mais importante quando falamos de educação financeira é preparar as gerações para escolher de forma consciente, e segura, entre as várias opções do mercado financeiro. De um modo geral, as pessoas sentam-se à frente do seu gerente e perguntam: o que é melhor para mim? Ele não é um médico que sabe o que é melhor para você. Só você pode dizer o que é bom ou não, financeiramente falando, para sua vida. O certo é chegar para o gerente e dizer: “vamos discutir meus investimentos.” Todas as classes devem ter essa consciência. Ainda que se ganhe um salário mínimo, é necessária a preocupação com o futuro financeiro confortável. Ninguém precisa ganhar rios de dinheiro, ter curso superior ou ainda um marido ou amigo dito “entendido” do assunto para começar a fazer seu pé de meia. Basta cultivar três fatores: disciplina com o dinheiro a ser investido, estar atento à taxa de juros e as perspectivas economias e estabelecer tempo ou prazo para aquele investimento. Com estas informações, é possível escolher melhor entre as inúmeras opções de produtos e serviços financeiros hoje disponíveis no mercado. Isto significa desde avaliar com mais critério as alternativas oferecidas pelo gerente dos bancos, como também a busca de produtos mais elaborados. A maior parte dos fundos de renda fixa está lastreada em títulos públicos. Assim, ao invés de investir em fundos prontos, o investidor pode optar por gerenciar sozinho a sua carteira e investir via Tesouro Direto, onde capitalizaria a taxa de administração ao invés de pagá-la. Claro que a compra de papéis via Tesouro Direto também envolve taxas e requer um acompanhamento mais próximo do investidor. Porém, pode garantir rendimentos mais elevados. A troca da poupança ou dos tradicionais fundos de renda fixa pela compra direta de papéis públicos é um clássico exemplo de como é possível, a partir do acesso a informação, o refinamento dos investimentos. Entre os investimentos em renda variável, apesar de vermos a crescente participação do investidor pessoa física na Bolsa de Valores de São Paulo, ainda é extremamente baixa a penetração do investimento em ações feito pelos brasileiros. De acordo com dados da BM&FBovespa, são cerca de 600.000 CPF’s com carteira ativa na bolsa paulista dentro de uma população de 190 milhões, ou seja, uma penetração de apenas 0,31%. Investir em um fundo de ações já é o primeiro passo para a sofisticação dos investimentos e a busca por melhores retornos. No entanto, esta decisão também pode ser aprimorada, com a abertura de uma conta em uma corretora, a seleção de papéis para investimentos no longo prazo ou ainda a formação de um clube de investimento. Devemos deixar para trás nossa memória inflacionária, que remete aos investimentos tradicionais e à necessidade de consumir rápido para garantir o poder de compra do dinheiro. Hoje, temos estabilidade e, para enriquecer, é preciso refinar a educação financeira, deixar de consumir o desnecessário para investir bem dentro de um planejamento financeiro pessoal, familiar e de vida, sabendo escolher entre as inúmeras alternativas no mercado. É simples. É só educar-se! Nota do Editor: Mauro Calil é professor e educador financeiro, fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil&Calil.
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