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Opinião
20/05/2010 - 07h34
O nó da educação
Ruy Martins Altenfelder Silva
 

São raros os ângulos de análise que permitem uma visão animadora do cenário e dos rumos da educação brasileira, enredada numa teia de problemas e deficiências, entre as quais se destacam as preocupantes avaliações de desempenho dos estudantes, dos professores e das escolas. Do lado positivo, é justo citar a quase universalização do ensino fundamental (elogiável pela quantidade, mas criticável pela qualidade), a distribuição gratuita de merenda, uniforme e material escolar, entre outras medidas.

Algumas unanimidades, comuns nas análises que buscam mapear as raízes da situação do ensino, encontram respaldo na realidade. Por exemplo, os efeitos da proliferação das faculdades, exemplificados pelos recorrentes índices de 80% de reprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Mas, os sinais de alarme não ficam por aí: no ano passado, foram reprovados 56% dos alunos do sexto ano de medicina que participaram do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), a maioria barrada na primeira fase, quando não souberam responder a questões básicas, como diagnósticos de apendicite, de gripe suína e meningite.

É senso comum que a boa formação dos alunos depende de professores capacitados e motivados. Então, o que pensar da expansão dos cursos de pedagogia, que saltaram de 1.237 para 2.295, com aumento de 85% no período 2002-07? Seria ótimo indicador não fosse o Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) 2009, segundo o qual o número de cursos de pedagogia ruins subiu de 172 (28% do total) para 291 (30,1%). Os tais cursos congregam 71 mil dos 284 mil alunos de pedagogia – o terceiro maior contingente matriculado em cursos de graduação e do qual sairão os futuros professores, coordenadores e diretores das escolas brasileiras.

Portanto, as deficiências talvez não se devam exatamente à sempre alegada falta de verbas, mas, sim, a um conjunto de fatores, incluindo a falta de competente planejamento para gastá-las bem. Aliás, um esclarecedor artigo do jornalista J. R. Guzzo lembra que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tendo como base pesquisa do período 2000-06, aponta que o Brasil é o segundo país do mundo que mais investe em educação proporcionalmente aos gastos totais do governo, ficando atrás apenas do México e à frente da Coreia do Sul e dos Estados Unidos. Portanto, conclui o articulista – e somos obrigados a concordar – a questão não é falta de recursos, mas a ilusão de que se podem resolver problemas só com dinheiro.

Com alunos saindo do ensino básico incapazes de entender textos simples ou fazer as contas aritméticas básicas, e sem o alinhamento de cursos superiores às demandas do mercado de trabalho, será impossível ao Brasil criar o capital humano apto a sustentar o desenvolvimento nacional. E mais: sem promover a preparação integral (teórica e prática) de seus alunos, as escolas continuarão despejando às portas do mercado de trabalho uma multidão de recém-formados sem a qualificação necessária vencer a barreira do primeiro emprego e atender às exigências da era do conhecimento. Mais conscientes da realidade do que as próprias escolas, muitos estudantes já perceberam que existem, pelo menos, dois caminhos para escapar dessa armadilha. Trilham o primeiro os jovens que têm a sorte de conseguir um estágio e, de quebra, contam com um belo trunfo: ao fim do período de treinamento prático, 64% desses privilegiados assinam contratos como funcionários efetivos. A segunda estrada passa pela feliz expansão da rede de educação profissional que, apenas considerando o nível médio (escolas técnicas, etec’s ou Senai), registra aumento de procura de 86% em menos de dez anos, esperando fechar 2010 com mais de um milhão de alunos em salas de aula – num movimento que vai na contramão das crescentes taxas de evasão do ensino médio regular. Pertencentes ao segmento populacional mais vulnerável ao desemprego – perto de 5 milhões de desocupados entre 16 e 29 anos de idade –, os alunos da educação profissionalizante desfrutam de cursos de reconhecida qualidade e taxas de empregabilidade superior a 70%, boa parte na própria área de formação.

Essas rápidas pinceladas traçam um quadro da educação brasileira, mas não esgotam suas nuanças, pois muitas das causas têm origem nos primórdios do sistema de ensino, ainda no século XIX. Mas não se pode olhar apenas pelo retrovisor, pois é preciso mirar à frente para se chegar ao destino desejado. Por isso, é mais do que hora de se pensar em políticas e soluções para a educação desvencilhadas de vieses ideológicos, corporativistas ou experimentalistas. Ou seja, voltadas para o interesse maior do país e das novas gerações de brasileiros que, sem a urgente correção de rumo, correm o risco de perder o trem da história.


Nota do Editor: Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE/SP) e do Conselho Diretor do CIEE Nacional.

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