O Bolsa-Família é um programa muito bem sucedido. Com baixo custo unitário, o programa consegue minimizar a situação de pobreza de cerca de 10 milhões de famílias. Os recursos do programa são transferidos diretamente para a família, sem intermediários, o que reduz a possibilidade de fraude e de oportunismo assistencialista de lideranças locais. Além disso, dada a alta propensão de consumo das famílias beneficiadas, o programa alavanca o comércio das pequenas cidades do interior do país, fator que contribui para o aquecimento da economia local. Consolidado o programa Bolsa-Família, é necessário começar a pensar em formas para levar os beneficiários a superar a dependência deste programa. Alguns chamam esta superação de porta de saída do programa. O pesquisador da FGV, Marcelo Néri, já disse que este termo não é feliz. Ao invés de sair de um programa bem sucedido, o pobre quer é entrar em um programa ainda melhor. O que o beneficiário do Bolsa-Família deseja é encontrar uma porta de entrada para um novo programa que melhore sua renda familiar. Cabe ao novo governo, a ser eleito em outubro, implantar, ou expandir, programas que atendam a esse anseio da população pobre. Experiências como a expansão de escolas técnicas e fornecimento de micro-crédito aos pequenos empreendedores têm atingido o objetivo de elevar a renda familiar a níveis superiores aos dos benefícios do Bolsa-Família. No caso das escolas técnicas estaduais, o jovem de 19 anos consegue sair empregado do colégio recebendo salário acima de mil reais. Qualquer família gostaria de trocar uma renda de 600 reais, recebida do Bolsa-Família, por um ingresso de mais de mil reais, conseguido pelo trabalho, com carteira assinada, de um filho adolescente. No caso do micro-crédito, as famílias conseguem, por exemplo, comprar uma máquina de costura ou um fogão industrial para transformar sua casa em uma micro-empresa. Tanto o ensino técnico, como o micro-crédito vem funcionando muito bem em algumas partes do País. O Brasil tem falta de mão-de-obra qualificada e de pequenos empreendimentos rentáveis. Não se trata de condenar o Bolsa-Família, muito pelo contrário, mas também não devemos nos contentar com o sucesso deste programa. É necessário dar um passo à frente. O exemplo do presidente Lula é uma prova da eficiência do ensino técnico direcionado ao mercado de trabalho. Após se formar no Senai, como torneiro mecânico, Lula conseguiu mudar de vida. Deixou de ser um empregado sem qualificação para entrar em uma grande empresa multinacional de automobilismo. Lula, portanto, foi fruto das oportunidades oferecidas pelo mercado capitalista paulista. Isto explica porque Lula, ao contrário de seus correligionários acadêmicos, não se deixou levar por idéias utópicas sobre desenvolvimento econômico. No dia de fundação do PT, no colégio Sion, em São Paulo, perguntaram ao Lula se ele era de direita ou de esquerda, e ele respondeu que era torneiro mecânico. Acredito que o Brasil pode avançar mais. O ensino e o acesso ao crédito produtivo podem ser importantes instrumentos para este avanço. Nota do Editor: Alcides Domingues Leite Junior é professor de economia da Trevisan Escola de Negócios e autor do livro "Brasil, a trajetória de um país forte", da Trevisan Editora Universitária. E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br.
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