A caça ao tesouro só começava quando encontrávamos a primeira pista. Durante as férias na fazenda, minha tia, como quem não quer nada, deixava em nosso caminho (umas doze ou treze crianças) algo que chamasse a atenção. Certa vez, por exemplo, foram botões que apareceram por todo lado. Ao entregá-los, ela pedia que os colocássemos em sua caixinha. Um belo dia, alguém percebeu que ali havia um bilhete. O curioso leu e notou que era enigmático. Mostrou a algumas crianças, não a todas. Deciframos a charada e vimos que havia a indicação de um local. Lá, encontramos outra charada... e como crianças não conseguem disfarçar, logo todo mundo se agitou e dois grupos se formaram. Cada um vigiava permanentemente o grupo adversário, fosse de dia ou de noite. Quantas vezes não percebi alguém se mexendo embaixo da minha cama... Em outras ocasiões, tive que dar longas caminhadas para despistar o xereta. Mas o pior de tudo era no banheiro. Nem bem entrávamos, percebíamos a ponta dos pés de um espião escondidinho. Como a única menina da casa, tinha que sair correndo e protestar junto aos adultos. Ficou estabelecido, então, que ninguém podia ser vigiado ali. Mesmo assim, às vezes eu surpreendia alguma cabecinha no vitrô ou um olho no buraco da fechadura. A busca do tesouro levava muitos dias, durante os quais nos sentíamos verdadeiros Sherlokes. Só nos faltavam lupas para examinarmos melhor as pegadas no barro dos caminhos. Perseguíamos e éramos perseguidos. Escutávamos conversas alheias. Ficávamos com dores no corpo de tanta ginástica para nos esconder em lugares não muito apropriados. Tudo isso para nada, pois no final, éramos obrigados a fazer acordo com o inimigo. Era preciso confrontar os mapas achados. Muitas vezes o tesouro encontrava-se bem na junção dos papéis! Descoberto o local, alguns se punham a cavar a terra, outros a olhar embaixo de pedras e outros ainda vasculhavam os galhos das árvores. Finalmente o encontrávamos. Aberta a caixa, ali víamos um montinho de moedas e um montão de balas e bombons.
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