Na praia de Barra de Una, os moradores antigos contavam que haviam uns canoeiros acostumados em ficar a postos para atravessar os passageiros que, vindos de Juquehy chegavam a beira do rio e gritavam: - “Passagem” O canoeiro então, seguia até a outra margem para transportar o passageiro, que só assim poderia seguir o seu caminho. A qualquer hora, quem quer que chegasse, teria embarcação para atravessar, desde que seu grito fosse ouvido do lado de lá do rio. Uma noite, porém o canoeiro Raimundo ouviu o chamado e logo começou a atravessar para buscar o passageiro, a correnteza do rio estava forte e exigiu grande esforço, mas mesmo assim chegou à outra margem. Encostou a canoa e olhou ansioso, silêncio absoluto. O caiçara desconfiado sentiu um arrepio na espinha, manejou o remo e começou a voltar. De repente escutou o barulho de correntes de ferro caindo dentro da canoa, no entanto não conseguiu enxergar a tal corrente, mas sentiu a presença de alguém... isso fez com que ele ficasse desesperado... Houve então um redemoinho, a canoa virou e ele se salvou por que era bom nadador. Todos acreditam que a canoa sumiu com a alma de um escravo acorrentado em fuga. Depois desse dia ninguém queria trabalhar a noite no local. Versão / DAUD, Beni. Caiçaras de Juqueí / São Vicente, l961.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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