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SEÇÃO
Crônicas
09/06/2010 - 10h01
Fora de padrão e sem rumo
Marli Gonçalves
 

Precisamos mandar calibrar o mundo, igual a pneu. Fazer o balanceamento, o alinhamento. Aliás, melhor verificar tudo, revisão geral, porque até o óleo está no lugar errado, o motor não está pegando e a turma do banco de trás está com o passatempo de dar croque na cabeça do motorista e do co-piloto.

Miss EUA é de origem árabe. Copa do Mundo na África. Mc Donald`s fazendo recall de carne e de copos. Novela das oito às nove. Pacifistas provocando guerras. Passeata gay trocando o colorido e a alegria do arco-íris pelo branco e preto. Imposto, imposto, imposto. E nada. Euro melhor que dólar. Grécia ruindo. Hungria se desequilibrando. Brasileira coreana americana no navio turco. Lula falando de urânio. Obama, de vazamentos e encanamentos.

Dunga zangado na Seleção. Faustão magro parecendo Gugu. Mulher gorila virando vedete na tevê. Jornal tentando parecer internet. Movimento organizado de amantes de padres. Dilma gêmea de Marta. Serra sem olheiras. Pão mais caro do que bolo. Avião que não voa. Polícia que não policia, mas tem de ser policiada. Crimes de gravata e de calça curta, por pouco, por nada. Tabacaria onde não se fuma. Mato sem cachorro. Bola que não rola; a bola que rola por detrás do pano. E a lei que não é lei, não se faz valer?

É muito mais do que está todo mundo louco, oba. Alguma coisa realmente está bem fora da ordem. Não posso ser a única com essa sensação. Não há mais padrões a seguir. Não há como, porque os padrões abriram o leque, abriram o bico. Amálgama, a descrição que me ocorreu. É o grátis que não é grátis, o convite que se tem de pagar. Muito obrigado por nada.

E as palavras, expressões, conceitos? Nas propagandas, a pele é cútis. Português é alemão, para vender carro. Ou coreano, para torcer. Os cabelos parecem tapetes de seda chacoalhantes. Ninguém vende, comercializa. Leiam. Embalagens contêm sabores, aromas e traços de tudo, artificiais e, portanto, nada é nem o que se vende.

Operadoras oferecem tudo, mas você nunca consegue. Promoções são grandes em gritos e pequenas nas letrinhas brancas na parte de baixo da tela. Os bancos aparecem tão bonzinhos, culturais, esportivos e solidários que é a única forma de explicar por que ainda tem gente de miolo mole que acredita e acaba abrindo e-mail de hacker. Vamos lá, regra número um para evitar que invadam seu computador: bancos não fazem graça para ninguém. Não existem seguros de saúde com preços abaixo de cem reais. E se o Ministério Público, a Polícia Federal, a Receita Federal, ou o raio que o parta quiser pegar você não vai emitir um e-mail, garanto. Ah, pênis não crescem assim tão fácil. Nem com remédios. Nem com "equipamentos" de exercício.

Cerveja não é álcool. É redonda, loura, ão, guerreira, gelada, boa. Propaganda de governo não é mais institucional, mas campanha descarada e declarada, insinuando a felicidade eterna, os problemas resolvidos. O Estado em orgia com o poder, ambos se penetrando de forma absolutamente insultuosa, para não falar outra coisa.

O jornalismo agora bebe e "se encontra" no botequim virtual do Twitter. Passa a noite insone, discotecando a solidão, competindo na angústia. Parecemos aqueles homens antigos que esperavam os papéis na frente dos telex, mas agora só no batuque do teclado, luz do monitor, voyeurs da existência humana. Nada mais é sagrado. Nada mais é secreto.

Deve haver padrão no jornalismo. Deveria. Hoje todos são supostos até que façam apenas uma bobagem qualquer. Ex-BBB é aposto profissional. Ex-BBB teve bebê. Mãe de ex-BBB posa nua. Ex-BBB é biba e bebeu. Ninguém se lembra dos coitados que comeram olho de larva e testículo de sapo em No Limite.

É tudo surpresa. Não há mais script, muito menos as coisas se desenrolam de maneira minimamente previsível. Há pesquisas que ninguém acredita, e que juram a verdade até que o fato ocorra bem real, e distante do prognóstico. Não há meteorologia possível e certeira. Olha só lá fora: vento, chuva, frio, calor, sol, céu azul e nublado. Não é?

A falta de padrão tem a parte boa, a da animação e espontaneidade. É cachorro alimentando jaguatirica, galinha adotando periquito. O problema são os sobressaltos. Todos os dias. Viva-se com um barulho desses.

São Paulo, palpitações, movimentações e descontroles, inverno, 2010.


Nota do Editor: Marli Gonçalves, jornalista. Fora do padrão. Mas, dia após dia, mais impressionada com a falta de fio condutor. Teme o apagão. Essa mania de querer prever tudo!

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