Crônica jurídica
Eu me refiro a ser colocado de lado, não aceito, preterido. Confesso, já passei por esta situação. Aqueles que passaram por esta experiência, agora me digam: Como vocês lidaram com essa situação? Não dói ser trocado? Não mexe com o nosso ego profundamente? Talvez seja este o principal motivo do homicídio praticado no litoral do nosso Estado, quando uma mulher foi morta por diversas facadas pelo amante, que não suportava mais o assédio. Os indicativos do homicídio praticado dão conta do conflituoso relacionamento mantido entre os dois já que o réu é casado e sua mulher teria descoberto o romance extraconjugal. Sendo que o acusado em certa data já teria tentado contra a vida da vítima ao corta-lhe o pescoço com uma faca e em outra ocasião a teria agredido violentamente, causando-lhe fraturas no maxilar e na coluna cervical. Destaca-se que a vítima o procurava insistentemente, demonstrando estar perturbada psicologicamente com o rompimento do relacionamento. Estudiosos da psiquiatria forense sustentam que amor e ódio são verso e anverso, de uma só medalha. Em poucos instantes, amor se transforma em ódio e ódio se transforma em amor. Desencadeados por fatores diversos: ciúme, mágoa, rancor e traição. A frustração amorosa experimentada, e o fato de ser rejeitada aliada a dor da perda provavelmente criaram uma perturbação obsessiva na vítima fragilizada. Segundo a literatura específica da conta que, quando o amor passa a ser doentio, a pessoa tem crises se está longe ou sem o seu parceiro. Com medo de a relação acabar começa a seguir e vigiar o outro. O amor se transforma em um sentimento destrutivo, levando para um desfecho trágico, como crimes e suicídios. Um dos mais terríveis sentimentos experimentados, por nós mortais, é a rejeição, que pode ocorrer em diversas fases de nossa vida, quando não somos aceitos em nossos relacionamentos amorosos, na escola (Bullying), família ou trabalho. Este sentimento para algumas pessoas sensíveis a essa doença, são fortemente assimilados que segundo os especialistas da área, pode levá-los a externar raiva e um ciúme patológico. Infelizmente esse amor obsessivo, ligado a um relacionamento amoroso conturbado, repleto de brigas, agressões e ciúmes, resultou no homicídio. No trágico romance relatado nos jornais, dão conta que a mulher continuava amando, e sofria muito por ter sido trocada, e provavelmente desenvolveu a doença conhecida na psiquiatria como “Amor Patológico”, que é sentimento de posse sobre o parceiro. Segundo o depoimento do homicida, a vítima o procurava insistentemente, demonstrando estar perturbada e disposta a tudo. Alguém já disse que os relacionamentos de mulheres mais velhas com homens mais jovens são instáveis e temporários. Ademais ninguém gosta de ser usado, muitas vezes até financeiramente e agora ser descartado como um brinquedo que foi enjoado. Em uma sociedade patriarcal e machista como a nossa, onde nós homens somos educados para não perdermos nenhuma oportunidade para demonstrar nossa masculinidade, e aliado a facilidade do relacionamento pela internet onde de maneira fraudulenta alguns passam a relatar de forma mentirosa uma infelicidade conjugal inexistente e o lar onde vivem como usina de desentendimento. Posando de cordeiros buscam paixões súbitas e arrebatadoras, brincando com sentimentos alheios. Afinal querem apenas se divertir à custa de uma pobre mulher. Pouco importando no ciúme insuportável e destruidor provocado em alguém que eles nunca amaram. Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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