O resultado da “Pesquisa de Satisfação dos Usuários do SUS-SP”, que a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo manteve engavetada durante três meses e só disponibilizou ao público e à própria comunidade científica quando o material vazou para a imprensa, demonstra a incompetência, o desleixo e a desumanidade do sistema. Exames demorarem seis meses para a realização pode representar a diferença entre a vida e a morte do paciente. Submeter parturientes à dor, quando os procedimentos indicados apontam para a anestesia e permitir que os postos de saúde trabalhem sem as doses de vacina a que a população tem direito, além de comprometer a saúde do povo nos próximos anos (talvez, décadas), expõe a falta de métodos e administração da máquina pública da Saúde. Se o governo fez a pesquisa – que ouviu 350 mil usuários em todo o Estado – para utilizar seus resultados na campanha eleitoral, o tiro saiu pela culatra. Aconteceu igual àquela velha estória do rico negociante que aplicou um milhão para montar sua árvore genealógica e, depois, conhecendo-a, teve de despender dez vezes mais para evitar sua publicação. Que o atendimento médico-hospitalar não vai bem, não é necessário fazer pesquisa para comprovar. Basta comparecer a um serviço público de saúde, ver as filas e verificar o drama das pessoas que ali sofrem em busca de um serviço que, segundo o artigo 196 da Constituição, é um “direito de todos e dever do Estado” e deve ser garantido “mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. O direito existe, está na Constituição há mais de 20 anos, mas é desrespeitado milhares, talvez milhões, de vezes ao dia! A pesquisa buscou aferir a satisfação do usuário do SUS e acabou por encontrar, na outra ponta de seu propósito, a insatisfação, que agora não pode ser mais ignorada. Governantes e dirigentes da Saúde sempre fizeram questão de ignorar as filas intermináveis e atribuíram sua existência a fatores externos ao sistema e, até, ao uso inadequado que a população faz dos serviços. Com a pesquisa, no entanto, ficou clara a existência de falhas estruturais e funcionais e o mínimo que se espera é a tomada de providências e a devida punição aos responsáveis. O secretário da Saúde tem a obrigação de abrir procedimentos e apurar a razão de tanta demora na realização de exames que a rede privada (e paga) executa de um dia para outro. Tem que procurar saber o motivo da negligência da anestesia às gestantes em serviço de parto e para onde vão as ampolas economizadas às custas das dores dessas mulheres. Não pode ficar sem informações do porque as vacinas não chegam aos postos de saúde e, se chegam, qual a razão da população não recebê-las conforme o estabelecido nos cronogramas preventivos de saúde pública. Infelizmente vivemos num país que arrota riqueza e desenvolvimento mas negligencia vergonhosamente na saúde, educação, assistência social, segurança pública e outros serviços públicos devidos à população. É preciso mudar... já!... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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