A última catástrofe brasileira é a chuva no nordeste. Mas ainda estão em nossas mentes as inundações em São Paulo, a tormenta de Santa Catarina, a tragédia no “lixão” do Morro do Bumba (em Niterói - RJ) e outros acontecimentos trágicos, onde os atores principais são a natureza degradada, a sociedade desorganizada e o povo encenando, ao mesmo tempo, os papéis de agressor e vítima. O Brasil, de alta tecnologia e desenvolvimento inegáveis, infelizmente, sem planejamento, nivela-se aos mais pobres e atrasados países do planeta, onde as populações sofrem por fenômenos perfeitamente previsíveis e contornáveis. O pujante parque produtivo e econômico confere ao país a condição de potência econômica. Mas os governos e a sociedade ainda precisam evoluir muito para promoverem o necessário equilíbrio entre o país rico das indústrias e dos grandes negócios e a população sofrida pela falta de desenvolvimento social e estrutural. Urge cuidar de questões sociais e ambientais. Proporcionar localização (moradia e trabalho) digna e segura às populações é dever dos governos que também têm como obrigação promover o equilíbrio e a sustentabilidade ambiental. Desde seus primórdios, o homem agride a natureza e, cedo ou tarde, é cobrado pelos agravos. Durante milênios - mas especialmente nos últimos cem anos, que transformaram o planeta numa verdadeira aldeia - o desvio de cursos d’água, a eliminação da vegetação de encostas e várzeas e outras intervenções humanas acabaram por constituir as armadilhas que hoje ameaçam a humanidade. Em termos globais já existe uma preocupação nesse sentido, ultimamente focada em questões como o aquecimento e possível derretimento das geleiras polares. Mas ainda não está completamente difundida e respeitada a preocupação ambiental ao alcance de nossas próprias mãos. Os esforços que o Brasil tem desenvolvido pela reciclagem do lixo e tratamento dos esgotos são significativos e já apresentam bons resultados, apesar de ainda haver muito a ser feito nesses setores. Mas o mesmo não ocorre com a preservação da vida humana. As populações pobres amontoaram-se em sub-habitações locadas nos pontos mais vulneráveis, passando a viver sob risco permanente. E pouco tem sido feito para removê-las. Age-se apenas no socorro depois da tragédia. Os fenômenos naturais estão fora do controle humano. Temos de com eles conviver. Mas nem por isso podemos nos instalar em áreas de alagamento, pontos sujeitos a desmoronamento ou a outras anomalias. Os governos e seus órgãos têm a missão de controlar tudo isso, mas sua ação é deficiente. Precisamos, urgentemente, salvar esses milhares de brasileiros que vivem em situação de risco. Almejamos o dia em que a competente Defesa Civil, que hoje age em socorro às vítimas das mazelas sociais e ambientais, possa redirecionar o seu serviço para a prevenção e a organização do povo, por não haver mais vítimas a socorrer. Hoje é um sonho, mas ainda poderá ser realidade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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