Dona Izaura, minha avó materna, tinha um vira-latas pitoco, de pelo preto e algumas manchas brancas. Chamava-se "Tó", ou "Tózinho"... Para os íntimos. Mimado ao extremo, era mesmo um chato. Conhecia-nos à todos, porém, à cada vez que aportávamos à casa da vovó lá vinha ele "se achando", latindo sem parar e, vez e outra, afetado por alguma crise existencial, excedendo-se em sua arrogância e tascando dentadas em quem ousasse cruzar à sua frente (os glúteos de minhas finadas tias que os digam. E aqui, até pra que não se cometam injustiças, incluo no rol o glúteo de dona Hilda, minha finada mãe). Bem... Tózinho, aquêle!... Sofria de uma tosse crônica. Passava o tempo todo fungando. À nós, os angelicais (?) netinhos: aquilo enchia o saco! À vó Izaura: comovia!... E tanto, que à cada tossida com mais veemência podia-se ouvir a frase condoída: - Coitado do Tózinho! Penso até que o safado entendia muito bem e aproveitava-se para exercer a sua chantagenzinha "cachorramente" emocional. Meus primos e eu, éramos frequentadores assíduos do casarão de dona Izaura, mais especificamente no horário da ordenha da tarde, para tomarmos o apôjo, que nos era servido nas cambuquinhas de ágata com todo o paparico que se possa imaginar. Vovó, traumatizada com a fungação do adulado, mantinha sempre em sua prateleira umas garrafinhas de xarope (presumo que administravam-se algumas doses ao vira latas safado). Aquele xarope era delicioso e por muitas vezes, nós, os seus netos, ingerimos alguns talagaços às escondidas. Em outras ocasiões, simulávamos crises de tosse e a pobre velhinha, com aquele carinho que lhe restara da professora aposentada que era, prontamente corria até a sua prateleira e retornava com colher e a garrafinha do "saboroso". - Tome um "Bromilzinho", pra não pegar a tosse do Tózinho! E a fila de pré candidatos à tuberculosos (morrendo de rir, internamente, é claro) deliciava-se ao "Bromil" de dona Izaura. Estas lembranças me ocorreram após ter lido na página da Giustina a crônica "Inverno do Sul", onde a grande cronista descreve as belezas do nosso inverno sulino (aliás privilégio nosso, o pessoal cá de baixo) e fala com muita propriedade das consequências do frio sobre a saúde das pessoas, inclusive revelando-se temerosa à onda de "doenças do inverno". Diante disso, esperando que o inverno lhe reserve única e exclusivamente a magia do cenário e como sugestão, recomendo-lhe correr até a farmácia mais próxima e adquirir uns frasquinhos de "Bromil". Assim, quando o minuano dos pampas varrer as coxilhas, rabear as caudas de quero-queros e com truculência fizer ranger as suas janelas, antes do inevitável arranhãozinho na garganta, recomendo-lhe: - Tome um Bromilzinho, pra não pegar a tosse do Tózinho!
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