Quando ele chegou naquela tarde quente de sábado, a paciente já o aguardava à sombra das pereiras. Um lençol branco a encobria como forma de preservar-lhe as partes contra a ação da poeira que erguia-se à cada rajada de vento. Segurando firmemente a maleta que trazia, acompanhado pela dona da casa, cruzou o jardim em direção à enferma. - Trouxe a minha amiga para debaixo do arvoredo em razão do forte calor de hoje. Aqui ficará bem melhor para que o senhor lhe possa examinar. - Argumentou a senhora, segurando entre os braços um pequeno cesto de vime contendo linha e agulha de crochê. O homem nada respondeu e sem nenhuma cerimônia, num gesto ríspido, puxou o lençol. Dobrou-o sem muito cuidado e o atirou sobre uma cadeira. Um ar malicioso e cretino desenhou-se em sua cara diante da desnuda. Não era difícil imaginar a devassidão de seus pensamentos naquele instante: - Pôxa!... Que material!... Uma beldade feito esta bem poderia estar em minha casa. Eu saberia muito bem o que fazer com ela. Ah!... Como saberia... A dona da casa, que era ciumenta, tecia nervosamente os fios que futuramente iriam resultar num "centrinho de mesa". Sem mais delongas, aquele senhor, passou a apalpar a enferma aumentando o ciume da senhora ao seu lado, que agora manuseava a agulha e o fio com maior velocidade. Com uma pequena esponja embebida em óleo, o libidinoso massageava demoradamente a adoentada. Contornava as curvas de suas pernas e com suavidade percorria-lhe os tendões próximos aos pés. Ao atingi-los, alisava-os... Tocava-os carinhosamente contra os seus. A enferma, estimulada, revirava-se em delicados movimentos. - É preciso ter muito cuidado com ela. - Disse, entredentes, à dona da casa que prosseguia frenética em seu "centrinho de mesa". A resposta veio de imediato: - Mas isto eu faço com muito gosto. Sabes do quanto lhe quero bem!... E, assim, trato-lhe com muito carinho... Até porque sempre que lhe procuro gosto de encontra-la lubrificada e cheirosinha. Ela sempre correspondeu a todos os meus toques, todos meus comandos... Não consigo entender o porquê destas recusas, ultimamente... O homem lhe responde num quase suspiro: - Éhh!... A vida é assim mesmo... E continuando aquela interminável bolinação, suas mãos iam estirando-se em longos toques acariciando à cada contorno da enferma e de repente acaba tocando-lhe a sua parte mais íntima. Abriu-lhe com gesto delicado... Agora, de seus olhos lampejava o brilho intenso do desejo... Aquele desejo de penetrar nas profundezas, perder a razão, ou descobrir "razões e porquês". E então, seu dedo arrasta pra fora algo estranho que fôra introduzido naquela preciosa gruta. Com o pequeno objeto nas mãos, direciona-se à crocheteira num tom quase agressivo: - Francamente! Minha senhora... Cometestes um pecado! Observe o que introduzistes na pobrezinha!... Isso não se faz, é safadeza... Por isso a infeliz não lhe estava correspondendo. Numa "Vigoreli" tão bem cuidada feita à sua, só mesmo fio número 20. Trocou o fio na carretilha, acionou o pedal e a máquina deslisou suave sobre o pano de testes. Recebeu pela prestação do serviço e ganhou a tarde de sábado pedalando sua velha bicicleta. No ar ficaram os acordos de seu assobio... "Que beijinho doce!... Que ela tem..." Felizes, enferma e dona da casa, trocaram afetos por muuiiitos... anos.
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