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Opinião
12/07/2010 - 07h03
A supremacia do macho
Marlene Waideman
 
Para além do aspecto físico

Sábado li aqui n’O Guaruçá o texto Um Brasil de Brunos e Elizas, no qual o autor lembra muito bem o desserviço que a mídia está fazendo ao focar, mais uma vez, a discussão nos aspectos sensacionalistas e pouco - ou absolutamente nada - atentar para o verdadeiro sentido do que estes casos – ’Brunos e Elizas’ – representam como ícones da violência contra a mulher.

Luciano aponta em seu texto, no subtitulo Morte anunciada, que a imprensa tenta contornar um tema de muita relevância e espinhoso, que é a violência física contra a mulher, se limitando a nos lembrar algumas mortes trágicas, a exemplo do assassinato da jornalista Sandra Gomide (e teríamos tantos outros a relacionar aqui), como mais uma crônica da morte anunciada. Acrescento aqui que se faz necessário mencionar que a violência contra mulher vai muito além da pancadaria e morte física, estas mal e semirresguardadas pelo aparato policial, através da Lei Maria da Penha. Sim, tem outras violências; aquelas que não deixam marcas verificáveis num exame físico e que acontecem em contextos que não são passíveis de serem submetidos aos operadores da lei, embora estejam amparadas pelo Artigo 1 da Declaração dos Direitos Humanos:

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Mais uma vez constata-se que a mídia, através de seus responsáveis jornalistas, perde mais uma uma excelente oportunidade para ampliar a discussão e chamar à reflexão um ranço da cultura que diz respeito à supremacia do macho sobre a fêmea, no mundo dos humanos, e especialmente na nossa cultura, que é povoada por um mundo masculino que aprende desde pequenino a engolir lágrimas e a transformar as tristezas legítimas em pensamentos racionais. Este mesmo homem da nossa sociedade latina que, sob a égide de muitos mitos, frequentemente se vê confundido com frouxo, banana, quando se arrisca a ter a delicadeza, a elegância, como um modo de relacionar com outras pessoas. Não é incomum o homem considerar que “é preciso”, ao invés de abraçar um amigo ou tocar em seu ombro em momentos emocionalmente intensos, dar-lhe um empurrão ou simular um soco em seu braço ou estômago. São poucos os homens que não se sentem pressionados a seguir rituais até brutalizados para assegurarem sua identidade masculina e não se sentirem ameaçados como homens, másculos, dotados de virilidade.

No que diz respeito ao relacionamento homem mulher, ao conversarmos com qualquer homem de nossos relacionamentos, pode-se arriscar dizer que quase todos concordam que deva haver respeito no relacionamento afetivo, e muitos desses concordam que a gentileza seja um atributo positivo e essencial para construção de relações bem sedimentadas e o desenvolvimento da confiança. Entretanto, no dia-a-dia é muito comum presenciarmos estes mesmos homens, em nome da defesa de sua masculinidade/virilidade, agirem predominantemente com desrespeito e deselegância para com suas companheiras e, pior, nem se darem conta de que estão exercendo uma relação de poder do macho sobre a fêmea, num mundo onde estas atitudes já não deveriam mais ter lugar. E o que poucas pessoas percebem, inclusive as mulheres sujeitas a essas violências e/ou violentamentos, é que essas condutas “másculas” navegam num amplo espectro: vão da simples desconsideração para com as necessidades subjetivas de suas companheiras ao gesto brutal de tirar-lhes a vida quando não lhe dão o que querem ou quando requerem deles o que eles não querem dar.

Estamos em pleno século XXI, a sociedade mudou, a mulher comum passou a participar do mundo econômico, não raro é parceira no sustento da família, tem seu direito a voto reconhecido, está vendo e sentindo sua responsabilidade pessoal e social aumentar, passou a ter as mesmas doenças cardiovasculares que os homens, e continua a ser subjugada, machucada, ferida e morta, física e emocionalmente por homens que fazem valer a sua vontade e poder a qualquer custo, sob qualquer alegação e pretexto.

Que estas chamadas ’conquistas’ do universo feminino não sirvam num tempo não muito distante para que as mulheres, na falácia do chamado pé de igualdade, se sintam compelidas a repetir no relacionamento a dois o ringue comumente estabelecido na luta pela sobrevivência e nem busque contabilizar ganhos e fazer valer a sua vontade a qualquer preço.

Diante desse quadro, como então as mulheres e, por consequência, o casal ou as famílias poderiam dar sua colaboração na formação dos filhos, no sentido de contribuir para a formação de homens mais sensíveis, mais dotados de gentileza e de virilidade, em seu verdadeiro sentido, se esses filhos são oriundos desse mesmo tipo de relacionamento? Se o que essas mulheres – as mães – vivem é a realidade experienciada pelos meninos em formação nestas mesmas casas? Se os meninos, e também as meninas, têm em suas famílias este modelo como referência? Mas isso já é tema para outra conversa.


Nota do Editor: Marlene Waideman, 56, é psicóloga, com formação clínica, Profa. Dra. com experiência acadêmica na área de pesquisas com enfoque na família.

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