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Opinião
20/07/2010 - 07h01
Assassinato de mulheres no Brasil
Lourdes Moreira
 
Caso Bruno é apenas mais um caso?

O mês de junho remete sempre às festas juninas onde se dança quadrilha e come-se guloseimas deliciosas! Pena de este ano ter sido marcado pela brutalidade do assassinato de Eliza Samudio. Uma jovem que, segundo a imprensa, queria fazer o teste de DNA para poder provar que o filho que tivera era de Bruno, goleiro do Flamengo; um dos times mais populares do Brasil.

Assassinatos brutais são como chiclete grudado embaixo da carteira quando fomos jovens afoitos por esconder o crime por mascá-lo: ninguém o tira de lá se não o tirarmos. Durante estes longos anos, vários chicletes ficaram grudados em minha memória, mas os que mais grudaram e grudam são os envolvendo violência, principalmente a sofrida pela mulher cujo réu é o homem.

Fato doloroso envolvendo Bruno e Eliza leva-me à lembrança do primeiro caso que me deixou claro que homens matam sim suas mulheres: o caso da família Proença.

Era o ano de 1970. O procurador de justiça Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo assassinou, em Campinas, sua esposa Margot Proença Gallo. Foi absolvido em dois julgamentos. O caso, à época, veio à público meio que na surdina; as pessoas liam pouco os jornais e televisão ainda era artigo de luxo para poucos.

O tempo passou e muitos... muitos crimes contra a mulher foram cometidos. Abaixo me reporto a alguns que foram marcantes nestes anos:

- Doca Street assassinou Ângela Diniz, no ano de 1976, em Búzios e, julgado, foi condenado a 15 anos de prisão;

- O cantor Lindomar Castilho assassinou Eliana de Grammont em 1981, em São Paulo e foi condenado a 12 anos e 2 meses;

- O ator Guilherme de Pádua assassinou a atriz Daniella Perez no final do ano de l993 e ficou preso por apenas 7 anos;

- O promotor de justiça Igor Ferreira da Silva assassinou Patrícia Aggio Longo em 1998, em Atibaia. Foi condenado a 16 anos e 4 meses ficando foragido durante 8 anos;

- O jornalista Pimenta Neves assassinou Sandra Gomide, no ano 2000, em Ibiúna e permanece em liberdade mesmo após ser réu confesso;

- No ano de 2008 vimos estarrecidos a jovem Eloá de apenas 15 anos ser assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Alves.

Neste ano de 2010 Mércia Nakashima desapareceu engolida pelas águas de uma represa e o corpo de Eliza ainda não foi encontrado.

Relaciono casos marcantes porque foram e, na maioria deles, noticiados constantemente pela imprensa. Exploração que chega a desgastar os tímpanos de expectadores levando-os à exaustão. Mas, e os casos que não foram noticiados porque não dariam IBOPE? Seriam apenas mais um caso de violência contra a mulher e os meios de comunicação não teriam “lucro” com os mesmos? Seriam muitos... muitos casos e prejuízo certo.

É importante que a imprensa noticie estes fatos conclamando os poderes constituídos para o grave e vergonhoso número de vítimas que temos tido diariamente e não apenas como se o caso fosse circo contínuo de detalhes nem sempre verossímeis. É primordial que sejam noticiadas pesquisas fidedignas como o estudo “Mapa da Violência no Brasil 2010”, realizada pelo Instituto Zangari com base no banco de dados do SUS onde aponta que 10 mulheres são assassinadas por dia em nosso país.

Nossas mulheres estão sendo mortas ou por seus companheiros ou por seriais killers que ficam na moita e às suas espreitas. Na maioria das vezes por homens próximos a elas e, principalmente, morando junto a elas.

A Lei Maria da Penha aí está e deve ser cumprida na íntegra. Todo caso de violência contra a mulher deve ser investigado ato contínuo após um boletim de ocorrência. Não podemos mais protelar as investigações e as denúncias. Todo vizinho ou amigo deve denunciar mesmo que anonimamente casos de violência contra a mulher.

Mulheres morrem após temerem denunciar seus companheiros, mas outras morreram e morrem após denunciá-los como Eliza Samudio que registrou boletim de ocorrência em outubro de 2009 contra o goleiro Bruno e morreu em junho de 2010. Tanto tempo depois! Sandra Gomide e Mércia Nakashima também haviam feito o registro antes da morte, para elas quase certeiro, mas não para os poderes responsáveis pela vida destas mulheres.

Temos que tirar o chiclete da incompetência ao respeito e à dignidade das mulheres que correm risco de vida a cada minuto em qualquer canto de nosso país. Temos que reestruturar uma sociedade machista onde a rejeição, a independência feminina ou o não querer assumir filhos sejam motivo para assassinatos torpes que deixam filhos e famílias em completa orfandade.

Que o caso Bruno não seja apenas mais um caso. É urgente... urgentíssimo!!!


Nota do Editor: Lourdes Moreira é professora da Rede Municipal e Estadual de Ubatuba.

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