Fui ao banco. Ao sair da sala para me atender, a gerente foi interceptada por outro cliente, extremamente irritado. Ela havia marcado hora para me atender e o sujeito queria passar à frente. Educadamente, ela explicou a situação e pediu que ele aguardasse na sala ao lado. Enquanto conversávamos, o quadrúpede fazia escândalo em voz alta, até que decidi encerrar a reunião e pedir a ela que atendesse o sujeito de uma vez. Algumas horas depois ela me ligou, pedindo desculpas. O sujeito era um grande cliente e se julgava no direito de ser atendido na hora, mesmo que tivesse que constranger a todos na agência. O suspiro dado ao telefone deixou claro que se pudesse, ela mandaria a cavalgadura para a ponte que partiu. Quando me formei no curso de Comunicação Visual em 1977, juntei-me a três colegas de classe e montamos um estúdio de comunicação. Éramos quatro ex-estudantes de comunicação, com idades entre 21 e 23 anos e todos os sonhos do mundo. Aceitávamos todo tipo de trabalho até que um dia, diante do dinheiro que não entrava e do monte de tempo investido nos trabalhos, concluí uma coisa que ficou comigo pelo resto da vida: - Temos que aprender a recusar clientes. É sim. Descobri naquela época ingênua que existem clientes – e não são poucos – dos quais temos que fugir. São clientes que dão prejuízo, nos fazem mal e ocupam o tempo que poderíamos dedicar a outras atividades, como regar o jardim, por exemplo. E de lá para frente, encontrei vários tipos de clientes: - O cavalos: que davam excelente lucro, mas ninguém queria atender, pois eram mais grossos que dedo destroncado. - Os indecisos: que não sabiam o que queriam e eram incapazes de tomar uma decisão. E dá-lhe refação. - Os cagões: que tinham medo de assumir responsabilidades. Não diziam nem sim, nem não e não permitiam que eu chegasse à suas chefias. Funcionavam como um anteparo, impedindo que as coisas andassem. - Os mal educados: que me deixavam esperando, não retornavam ligações e jamais usavam qualquer princípio básico de educação. Teve um que dizia que “fornecedor é que nem cachorro: a gente tem que ter um pra chutar.”. - Os soberbos: geralmente jovens profissionais que ao conquistar algum poder – qualquer poder – passavam a “se achar”. E do alto de sua ignorância desprezavam a experiência dos não-poderosos, geralmente fornecedores ou subalternos. Hoje estou vacinado. Conheço as feras de longe. A experiência me ensinou que cliente bom é aquele que – além de pagar pelos serviços – se diverte junto comigo, entende que estamos construindo algo positivo, juntos. Cliente bom é aquele que estabelece comigo uma relação de confiança, dando-me oportunidade de a ela corresponder. Cliente bom é aquele que me deixa satisfeito quando fica satisfeito. Cliente bom é aquele que quer sinceramente meu sucesso. Cliente bom é aquele que eu abraço com vontade. Cliente bom é o que é nutritivo... Imaginei a gerente do banco abraçando aquela cavalgadura. Impossível. Tem cliente que a gente não atende, enfrenta. Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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