“Comecei a fumar maconha com quatorze anos, aí cocaína com dezesseis. A vida é um degrau que sobe, a droga é um degrau que desce. Vai descendo, primeiro você perde seu dinheiro, depois você perde suas coisas, aí perde sua dignidade”. Este foi o depoimento de um jovem de vinte anos, preso por esfaquear os pais porque eles se recusaram a dar dinheiro para comprar cocaína. É mais um caso na crônica policial relatado na imprensa do centro do país, que acontece diariamente nas grandes cidades e hoje também presente nas pequenas localidades do interior. Fato que choca e revolta uma parcela da sociedade, enquanto a outra parece desconhecer os malefícios da dependência química, dos gastos com tratamento médico, perdas sociais e mortes prematuras, pregoam aos quatro ventos a legalização da maconha, ou seja, liberar o acesso tornando legal o seu uso, acreditando na falácia de que a violência diminuiria. É varrer para debaixo do tapete um dos maiores problemas sociais, e que comprovadamente está associado ao aumento da violência, e que conhecemos tão bem sua trajetória até o usuário, onde o traficante repassa a droga a um conhecido, que por sua vez oferece a um não viciado, abrindo uma nova porta para outros vícios, pois é sabido onde há a maconha também há outras drogas como a cocaína e o crack. O vício das drogas não degrada apenas o usuário, mas também seus familiares, que viram co-dependentes e não raros são os pais que se sujeitam a atos extremos, como acertar dívidas de seus filhos com o traficante, na ânsia de salva-los da execução. Trata-se de um flagelo que se espalha com rapidez, trazendo a violência para todos, pois são freqüentes os assaltos a pessoas e estabelecimentos comerciais, praticados por viciados que buscam, mediante o crime, obter recursos para sustentar esse caro e destrutivo vício. Mesmo com ações operacionais das polícias, o assédio de pequenos traficantes aos jovens, ocorre cada vez com mais freqüência e ousadia em todos os lugares, sendo que na maioria das vezes os pais quando descobrem que os filhos estão viciados, já é tarde como na tragédia relatada na introdução deste artigo. Iniciando-se um processo sofrido, penoso e traumático para todos os envolvidos, onde o índice de êxito infelizmente é baixo, ocorrendo quase sempre a recaída, quando das crises de abstinência. Ainda o melhor remédio de combater as drogas é a velha prevenção, que através da informação, educação e diálogo e a participação efetiva da família, onde o carinho, a conversa franca e aberta, o incentivo a responsabilidade e a confiança, afastam peremptoriamente o jovem das drogas. Assim sendo, cabe a todos nós, sociedade, instituições, autoridades, profissionais e educadores, termos consciência que a epidemia das drogas ultrapassou todos os limites de tolerância, e que não basta só denunciar e prender traficante, é preciso agir com campanhas persistentes e agressivas sobre essa realidade que destrói a família brasileira. Argumentar que não faz mal e não vicia e que sua dependência é apenas psicológica, e que o usuário consegue abandonar a droga quando quiser, é um ledo engano. Maconha vicia e quase sempre é a primeira droga do jovem adolescente que com certeza em muitos casos será substituída por outra mais pesada. Por outro lado defender sua utilização, como auxílio na diminuição da pressão do globo ocular nos casos de glaucoma e calmante dos vômitos após o tratamento da quimioterapia é desconhecer o avanço da indústria farmacêutica que coloca no mercado medicamentos com resultados superiores aos da “Cannabis sativa” e que não causam dependências e nem lesões neurológicas. De outra banda, afirmar que a proibição fortalece o crime e que seu uso não acarreta nenhum dano, é desconhecer o inferno que vive os co-dependentes e usuários, que com certeza iniciaram no vício com um “inofensivo” cigarro de maconha. Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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