Imagino como deve ser triste a vida de um árbitro de futebol. Calmantes e antidepressivos devem lotar o armário de seu banheiro ou disputar espaço com a escova e o creme dental. Ninguém deve ouvir tantas ofensas quanto ele - nem mesmo um deputado. Horrível, também, deve ser o tamanho da autoestima desse pobre profissional. Se pessoas vestidas de branco e preto não o chamam de safado, cretino ou não o convidam a tomar naquele lugar, indivíduos trajados de verde e branco farão esse favor. Pessoas famosas se escondem atrás de balcões de aeroportos e se disfarçam com perucas, sempre com o mesmo objetivo: não ser assediadas por fãs. Um árbitro, entretanto, não tem fãs, mas precisa se esconder do mesmo jeito. Artistas recebem flores, cartas de trinta metros e até beijos; árbitros recebem pedradas, chutes e cadeiradas. Quando você vai a uma festa, nunca sabe se lá será tocado pagode, samba ou rock. Um árbitro, porém, sempre sabe que será recepcionado com um sonoro "Ei, juiz, vai tomar...". Uma pessoa pode esquecer que, um dia, certo político tenha escondido dinheiro na cueca, mas jamais vai esquecer do jogo em que o juiz anulou o gol do seu time, mesmo que esse jogo tenha acontecido há vinte e cinco anos. Ainda que um árbitro apite acertadamente duzentos lances, o único que ele errar será eternizado na lembrança de todos os torcedores e repetido de forma exaustiva nos programas televisivos do dia seguinte. Enfim, quando você ficar triste e deprimido, lembre-se de como é a vida de um árbitro; você se sentirá muito mais feliz.
|