Dois pastores gays da Igreja fundada pelos mesmos sob a denominação de Igreja Contemporânea, casaram-se e promovem a liberação de seus fiéis, com possibilidade de casamento entre mulheres lésbicas e homens homossexuais. Promoveram na televisão um debate para firmarem seus objetivos e principalmente para discutirem uma melodia de CD que diz que se Deus quisesse os casamentos gays teria criado Adão e Ivo e não Adão e Eva. Fiquei um pouco indignado com a fragilidade do debate face aos escritos bíblicos e a Teologia. Achei estranho porque a TV não convocou pastores de outras igrejas evangélicas e católicos para o debate, mas somente um pastor da Igreja Renascer e outro pastor-teólogo de uma Igreja Evangélica do Rio de Janeiro. O assunto seria de interesse de todas as Igrejas Cristãs. Os enfoques foram sobre a discriminação de pessoas gays, o Amor de Deus que poderia admitir o casamento entre homossexuais, e a homossexualidade como distúrbio genético irreversível e não entendida como endemoniação passível de ser tratada em processos religiosos de libertação. A fundamentação bíblica do debate começou em Gênesis, no enunciado “Crescei e Multiplicai-vos”, contrariado pelo enunciado “Amai-vos uns aos outros”, que seria o amor incondicional de Deus, este defendido pela Gretchen, artista e cantora, da Igreja Renascer, que vivencia a experiência com sua filha. Com os meus modestos conhecimentos teológicos aprendidos em algum tempo de Seminário, parece que algumas novas igrejas estão interpretando os livros sagrados como os políticos fazem com o direito, ao bel prazer de seus interesses. Assim, tudo fica simples de explicar, no que respeita à interpretação. Não restou ainda provado cientificamente que a homossexualidade é um problema genético, ou se é distúrbio patogênico ou comportamental, psicossocial. O fato é que ela existe e as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, que para muitos são consideradas anômalas do ponto de vista social e religioso, estão acontecendo de forma publica e notória. A sociedade e as religiões parece que estão apavoradas com os fatos dessas relações. Não sabem se discriminam, o que tipifica conduta delituosa, ou se admitem. A questão não preocupa só quanto aos dogmas ou regras religiosas das diversas igrejas, mas também quanto às regras sociais do direito civil, pois é a sociedade a tutora das normas de direito civil que envolvem o casamento e constituição de família. Para que exista uma norma de direito civil é necessário que haja um fato social, a este se atribua um valor moral, para então ser instituída a norma jurídica. A questão da discriminação individual do gay já restou resolvida com a proibição constitucional e legal. Porém, a formalização do casamento civil e religioso entre eles, acredito ser inócua e promovida por interesses particulares, eis que a informalidade em nada prejudica o casal gay, que pode ter as conseqüências de sua união estável reconhecida em Juízo, isoladamente, em cada caso. Como a sociedade é a tutora do direito civil, para instituição de qualquer norma jurídica a respeito, deveria a formalização do casamento em questão ser precedida de um plebiscito. Creio que com o plebiscito a Nação seria consultada, aprovando ou reprovando a instituição de norma jurídica a respeito. O que não pode é o assunto ser submetido apenas ao interesse político de um pequeno grupo de parlamentares, de um Congresso Nacional que já não mantém sequer os princípios das tradições e aspirações nacionais, ainda por cima maculado em parte pela corrupção e muitas vezes levados pelas intenções casuísticas eleitoreiras. Todos sabem que, no Governo Democrático, o Estado se constitui de Três Poderes, sendo o Legislativo um deles. Mas o Estado nada mais é do que uma ficção jurídica, sendo as leis impostas pelas forças armadas instituídas. As leis deveriam ser instituídas e mantidas pelas aspirações e tradições nacionais, com força na Ordem Jurídica. Mas sem a força armada as leis não teriam sua sanção, a Constituição Nacional não se impunha a todos, pacificamente. Com o plebiscito a sociedade ou a Nação manifestaria sua vontade política e jurídica a respeito do assunto que esgotaria qualquer especulação. Mas só a sociedade civil resolveria a questão? Claro que não. Porque hoje as religiões são muitas e não tem força de Estado. Sobrevivem as igrejas pela melhor interpretação da Palavra Cristã e dos testamentos e profecias antigas inseridas na Bíblia, sabendo-se que existe entre elas velada política de marketing. É a interpretação da literatura bíblica que gera a polêmica, e muitas vezes, a especulação das igrejas. A bíblia registra as profecias, a Lei de Deus, a Doutrina Cristã, o Evangelho de Cristo testemunhado pelos Apóstolos e os Salmos como forma de louvor. As Igrejas ditam as regras, cada uma de acordo com sua interpretação. É a chamada Hermenêutica ou Exegese do texto sagrado escrito. No Brasil, ao que se sabe, só a Igreja Contemporânea está admitindo e usando de todos os meios para divulgar o casamento gay. Não seria um artifício para aumentar seu rebanho? A Contemporânea é uma Igreja que irá crescer, porque o que se depreende do debate que vem promovendo é que as Igrejas Evangélicas em geral e a Católica não aprovam o casamento gay, enquanto que ela aprova, porque entende que a homossexualidade é nata, não havendo necessidade de nenhum processo religioso de libertação da endemoniação, que acha que não é o caso. Há que se destacar que os pastores líderes da Contemporânea são gays e casaram-se em sua Igreja. Percebeu-se no aludido debate que o casal de pastores gays, fundadores e dirigentes da Igreja Contemporânea, defendem o casamento gay com embasamento no Amor de Deus, oriundo dos ditados bíblicos “Amai-vos uns aos outros”. Mas distorceram o debate, saindo da discriminação individual da pessoa gay para a desaprovação das igrejas para o casamento gay formal e religioso. Não há dúvida para as pessoas religiosas, na teologia de todas as Igrejas de Doutrina Cristã, de que quem enxerga pelos olhos do Amor de Deus enxerga muito mais do que os que enxergam pela visão comum. O exemplo é o amor de pai ou de mãe. O amor, porém, é sobrenatural. O amor erótico (de Eros) é apenas físico, gerado no espírito natural, por uma combinação de hormônios. Ele só existe e enxerga no círculo de suas sensações do momento das relações íntimas do corpo. É só prazeroso, mas passageiro, enquanto que amor sobrenatural é um sentimento da alma, que se eterniza. A questão se enfoca na visão dos valores físicos, que envolve os sentimentos eróticos humanos e os valores morais que envolvem as relações sociais e religiosas. O casal de pastores gays enfatizaram que existe entre eles relação afetiva, como nos casais normais, por isso que Deus no seu Amor Eterno também aprovaria a união entre homossexuais. Eles estão usurpando da Justiça Divina. Não podem afirmar que Deus aprovaria o casamento gay, nem achar que seriam aceitos em nome do Amor Divino. Essa Justiça compete a Deus. Deus criou o Homem e a Mulher com espírito de procriação. “Crescei e Multiplicai-vos”. Deus criou no homem e na mulher a libido que é o principal hormônio da sexualidade, para que eles pudessem se relacionar sexualmente, com o espírito de procriação e de família, não só de prazer físico. Quando a relação entre dois corpos humanos visam só o prazer, as sensações de intimidade, a libido, o orgasmo, existe somente uma relação sexual. Todo mundo sexuado gosta. Mas os desígnios de Deus, na Criação, não foi a instituição da sexualidade como prazer sexual apenas, que pode até gerar uma relação afetiva, mas sim a procriação. Por essa razão, não vejo porque tanto sacrifício para que a sociedade tolere ou admita a relação gay, já aceita no mundo todo pela maioria. Quase todas as sociedades, no mundo todo, admitem a relação gay. No entanto, de nada adiantaria a lei social admitir o casamento gay se a lei natural não permite a procriação entre casais gays, portanto, não permitindo a constituição de Família Natural. A Família adotiva ou de coração, embora possa ser cercada do amor humano e até contemplada pelo Amor de Deus, que acredito que seja, será sempre uma família social não natural. A lei civil e algumas Igrejas, não admitem certos casamentos. De pessoas separadas de fato ou judicialmente, que não divorciadas, por exemplo (onde o divórcio é legal). E nisso não há nenhuma discriminação. São regras sociais ou religiosas. As Igrejas tem suas regras. Elas não discriminam o indivíduo gay. A maioria até admite a freqüência de fiéis gays. Elas não permitem o casamento religioso formal entre gays, por entender que não é natural e porque não está conforme o prescrito em Genesis. Acredito também que o Amor de Deus contempla esses indivíduos, sejam eles gerados por anomalia genética, por distúrbios patogênicos ou mesmo por distúrbio comportamental, psicossocial. Não cabe discriminação social. Seria como se a gente discriminasse uma pessoa esquizofrênica, por exemplo. Alguém cristão ou não, poderia discriminar portadores de heranças ou anomalias genéticas? Claro que não. Seria desumanidade, ou atitude anti social, acima de tudo. A sociedade, por ser a homossexualidade um fato estranho a seus costumes naturais e tradicionais, estranha o casal gay. Mas tolera e pode até admitir essa situação. Porém, o casamento entre gays, é questão de regras religiosas e civis, e os casais gays não precisam do casamento formal para terem suas relações sexuais e serem felizes. Para constituírem família adotiva ou de coração podem recorrer à Justiça, em cada caso. Casamento gay formal, social ou religioso, fere sim o princípio da sexualidade amorosa criada por Deus, que é o princípio da união natural entre homem e mulher para procriação e perpetuação da espécie humana e formação da família natural. Se o casal gay for feliz aqui na Terra, poderá, merecer o Amor de Deus, se viverem uma relação afetiva verdadeira, não apenas com objetivos sexuais, de exacerbação de prazeres ou intimidades carnais, que não estão nos desígnios do Criador. Creio que Deus pode abençoar uma relação íntima entre casais naturais, desde que não seja em circunstancias exclusivamente eróticas, sem nenhuma comunhão de amor. É um problema para Deus resolver, talvez no Juízo Final, não para as Igrejas que se limitam a seguir o que está prescrito de forma clara, que não admite interpretações isoladas de qualquer mortal, principalmente de uma minoria que se diz geneticamente anômala, anomalia genética irreversível, como afirmaram os pastores gays. O que é importante é que, para serem felizes, os gays não precisam de casamentos formais, sociais ou religiosos, como tantos casais normais, de homem e mulher, que se juntam, constituem família, vivem felizes, em união estável, e não se preocupam com formalidades. O amor de Deus poderá contemplar esses casais, independentemente de regras de Igrejas ou casamento formal. A regra das Igrejas é fundada no princípio da procriação que só admitiria o casamento natural, já que o não natural não seria propício à procriação. Nisso não vai nenhuma discriminação aos gays. São regras que não devem ser ameaçadas por ninguém, principalmente porque não é isso que vai fazer a felicidade afetiva na convivência dos casais. Porém, união de casais, só para relação erótica, de intimidades sexuais, não é base para se construir felicidade alguma, porque a felicidade perene só se constrói com o tijolinho do amor sobrenatural, principalmente do verdadeiro amor cristão. Regularização social ou religiosa de relações apenas sexuais, com opções diversas das naturais, não justifica nada, e não é necessária. Se duas pessoas do mesmo sexo viverem juntas, em relação não conjugais, e manterem algum laço de afetividade, principalmente em missões do bem comum, sem nenhum motivo sexual, evidentemente não estariam cometendo pecado algum. Mas, para formalização conjugal, civil ou religiosa, é necessário haver comunhão de amor e intenção de constituição de família, não entre casais que visam só a regularização social e legal de simples relações por opções sexuais. Tanto que, geralmente, os casais normais, que não podem ter filhos naturais, os adotam, com objetivos familiares. Os casamentos formais não devem ser objeto de fantasias sexuais, mas instrumento de intenções de constituição de família social ou religiosa. Por isso que acredito que casamento gay em igrejas tradicionais será uma barreira intransponível, principalmente porque não se embasa em necessidade social nem mesmo religiosa. A religião se pratica individualmente, mas por fazer parte do convívio social dos casais, o ideal é que não divergisse entre os casados, o que não seria necessário, visto que o comportamento religioso visa a Fé, o Amor e a Paz na Terra e, no plano sobrenatural, a Vida Eterna, em um só Deus. Nota do Editor: Claudionor Quirino dos Santos é Bel. em Ciências Sociais e Advogado.
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