Construir patrimônio no Brasil nunca foi uma tarefa fácil. Em alguns casos, aspectos culturais fazem o investidor médio confundir “o ter” com “o ser”. Para ter, e mostrar o que temos, muitas vezes, aderimos a financiamentos, com juros altos e de fácil acesso. No entanto, se não for bem planejada, a decisão que, inicialmente, busca trazer status e projeção, pode se transformar em preocupação e instabilidade financeira. Em parte, podemos avaliar que este comportamento de consumo e a busca por financiamentos seja, de fato, uma conseqüência da conquista da estabilidade econômica brasileira. Hoje, as pessoas na faixa de 20 a 40 anos de idade foram criados pelos que viveram grande parte de suas vidas na época da inflação altíssima, quando a referência monetária era etérea e financiamento a longo prazo era algo completamente inviável e inacessível. Entretanto, devemos lembrar que o tempo da inflação de 30% ao mês felizmente já passou e, ao que tudo indica, não deverá voltar. Com a mudança de cenário, também mudam os hábitos de consumo e os caminhos que se deve seguir para a construção de patrimônio. Se hoje conseguimos manter o poder de compra da nossa moeda e vislumbrar cenários de longo prazo, precisamos aprender a avaliar com mais cautela as taxas de juros e buscarmos alternativas de investimentos que possam nos garantir rendimentos atrativos. Ao contrário de antigamente, hoje, a estabilidade financeira nos garante tempo para avaliarmos melhor as alternativas e não tomarmos decisões precipitadas. Como exemplo, vamos avaliar o financiamento de um imóvel no valor de R$ 200.000,00, sem entrada. Considerando o pagamento em 15 anos, com taxas de juros de 1% ao mês pela tabela price, com 180 parcelas fixas de R$ 2.400,40, o proprietário teria pago, no final do período, R$ 432.072,00, ou 2,16 vezes o valor inicial, pelo imóvel. Hoje, podemos ter uma visão de longo prazo e o investidor pode avaliar alternativas, como um consórcio ou guardar recursos para negociar um valor de entrada e conseguir um bom abatimento no valor final. Se considerar a alternativa via consórcio, por exemplo, o mesmo imóvel sairia a um custo total de R$ 254.242,01. Fazer cálculos simples é necessário para conseguirmos um construir patrimônio que nos proporcione estabilidade e segurança financeira no futuro. Também precisamos aprimorar a nossa carteira de investimento. Mesmo com grande evolução da nossa economia nos últimos 15 anos, podemos notar que a busca pelo trinômio Rentabilidade x Segurança x Liquidez continua, para a maior parte da sociedade, sendo feita na renda fixa, através de produtos padronizados oferecidos pela rede bancária de varejo. Considerando um fundo de renda fixa cuja taxa de administração é de 1,5% ao ano, uma aplicação de R$ 1.000,00 renderia 10,25% ao ano bruto. Porém, para saber o quanto ganharíamos de fato, temos de considerar o Imposto de Renda sobre o rendimento (de 17,5%) e a inflação do período (de 4,5%). Com todos os descontos, a rentabilidade final do investidor foi de apenas 2,3% e não de 10,25% como mostraria o prospecto do produto. Se investisse diretamente o mesmo valor via Tesouro Direto, em títulos de mesma rentabilidade (10,25% aa) buscando corretoras com isenção de as taxas, a rentabilidade do investidor seria de 3,95%. A sofisticação dos investimentos também vale para a entrada no mercado acionário. Hoje, apenas 0,31% da população brasileira está presente na bolsa de valores. Poucos têm em seu vocabulário a expressão “dividendos” e não sabem como o recebimento destes valores os beneficiaria ao longo vida na busca pela riqueza. Veja em um exemplo de uma ação com valorização linear de 15% ao ano em 10 anos e cujo valor de dividendo pago seja de 3% de sua cotação todos os anos. O investidor faz uma única compra de 1.000 papéis a R$ 1,00 cada, mais a corretagem na tabela “padrão Bovespa”, emolumentos e taxa de liquidação, o investimento total inicial seria de 1.017,84 no primeiro ano. Ao final dos 10 anos, o valor dos dividendos recebidos resultaria em um rendimento de 36,5% sobre o capital investido. Não há dicas ou conselhos milagrosos para se chegar a tão sonhada segurança financeira. O que deve prevalecer é a calma e a perenidade das aplicações, sempre com uma margem flexível que permita mudanças. Tudo isso resultará na construção de um patrimônio sólido no futuro e real estabilidade financeira. Nota do Editor: Mauro Calil (www.calilecalil.com.br) é professor e educador financeiro, fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil&Calil.
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