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Crônicas
06/09/2010 - 07h30
Os três macacos
Adilson Luiz Gonçalves
 

Durante a infância, uma bronquite asmática me impedia de brincar na rua. A alternativa era ficar em casa e ver televisão ou folhear revistas e jornais. Mas, aquelas figurinhas miúdas, que chamavam de letras, eram um empecilho: eu precisava decifrá-las!

Meu pai trabalhava em três períodos. Minha mãe tinha todos os afazeres da casa. Meus irmãos tinham a escola e, abençoados, podiam brincar na rua. Talvez por isso, não tinham muita paciência de ler para um pirralho analfabeto e desdentado, ícone do subdesenvolvimento natural. Que saco!

Aos cinco anos de idade resolvi proclamar minha independência: “Quero ir à escola!”.

Meus pais disseram que ainda era muito cedo, pois a idade mínima para a escola pública era sete anos. Mas, diante de minha postura irredutível, apelaram para a criatividade:

Recebi uma malinha e a Cartilha Sodré - que já haviam servido aos meus irmãos -, um caderno do MEC e um lápis, e fui matriculado na “Escola do Seu Manoel”, com direito a ditados, leituras e lições de casa. Meu pai “lecionava” enquanto almoçava!

De repente, as letras passaram a fazer sentido! Sopa de letrinhas passou a ser meu prato preferido e nem bulas e embalagens escaparam de minha “fúria revolucionária”!

Às figuras, uniram-se os balões de texto, que deram lugar às imagens, com textos de rodapé; que foram substituídos pelos textos, com figuras em páginas intermediárias, até que, finalmente, bastaram os textos: a imaginação já se tornara mais poderosa do que o traço dos ilustradores!

A alfabetização liberta!

Assim, livre, os jornais passaram a fazer parte, indissolúvel, de minha vida. Neles, eu lia o que ouvia, no rádio, e via, na televisão, outros companheiros inseparáveis.

A informação instrumenta!

Essas múltiplas fontes de informação mostravam ora coerência ora discrepância. As diferenças geravam dúvida, desconfiança ou curiosidade, que estimulavam ao raciocínio; e as conclusões pessoais começaram a moldar a arte final desse processo.

A consciência não deixa escravizar! Ou, no mínimo, rejeita a escravidão!

Será por isso que só a quarta parte da população brasileira é plenamente alfabetizada?

Bem, frações pequenas não sugerem dramaticidade. Que tal assim:

Três quartos dos brasileiros são analfabetos plenos ou funcionais, ou seja, não entendem o que lêem e mal sabem expressar suas idéias!

Isso não quer dizer, absolutamente, que 25% são expertos e 75% são tolos. Há uma enorme diferença entre ignorância e estupidez! Mas, de uma coisa não há dúvida: a alfabetização, a informação e o senso crítico são os antídotos para a ignorância, e os principais instrumentos para o desenvolvimento autônomo de um país!

Por isso a imprensa precisa ser livre!

A sociedade precisa do jornalismo investigativo, sério, independente e responsável para alimentá-la de dados que permitam análise e conclusão! Isso não deve ser cerceado, mas incentivado e assegurado pelas instituições, que também devem promover e prover educação e cultura para o povo!

Analfabetismo, ignorância, segredo e censura lembram a clássica figura dos três macacos: “Não falo! Não ouço! Não vejo!”.

Privados desses sentidos, não pensar é uma consequência quase inevitável! É quando o povo, em vez de macacos mudos, surdos e cegos, vira cordeiro, sacrificado todos os dias no sacrílego altar da violência e da corrupção institucionalizadas!

A democracia nunca existirá e ninguém jamais poderá se arvorar democrata enquanto promover, ignorar ou aceitar essas circunstâncias!


Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.

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