Cores vivas nas paredes, belos quadros pendurados e funcionários bem vestidos. Por mais de dez anos, o conceito de humanização na área da saúde brasileira esteve estritamente - quase exclusivamente - atrelado às premissas citadas acima. Atualmente, sem desqualificar essas importantes características, percebe-se que o entendimento de humanização da saúde está mais amplo e profundo.

No Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, amenizar o ambiente hospitalar é apenas uma das ações voltadas à humanização. Atividades de descontração aos pacientes, como as realizadas nas brinquedotecas, estão inseridas num modelo muito mais amplo, que chamamos de gestão humanizada.

Entendemos que a humanização tem, obrigatoriamente, de passar pela formação do profissional de saúde. Quem estiver lá na ponta – seja médico, enfermeiro ou atendente – precisa ter a visão integral da pessoa que está interagindo e não apenas de sua doença. Nesse aspecto, a parceria do Hospital das Clínicas com a Faculdade de Medicina da USP tem assegurado um excelente desenvolvimento dos nossos profissionais, tanto no embasamento teórico como no treinamento prático.

Outra premissa para alcançar o atendimento humanizado é manter alto o grau de satisfação dos colaboradores. O tratamento diferenciado e respeitoso aos profissionais será diretamente refletido no seu relacionamento com os pacientes, acompanhantes e familiares. Diante disso, a pesquisa de clima organizacional, realizada periodicamente no Hospital das Clínicas, é uma importante ferramenta, bem como as pesquisas de satisfação dos pacientes.

A proposta de humanização do HCFMUSP é a de sair do modelo exclusivamente focado na doença e buscar o entendimento integral, holístico, do paciente, que tem uma história, desejos, crenças, cultura, sentimento, família e também uma doença.

Em 2009, o HC aprovou a criação do Serviço de Cuidados Paliativos. Trata-se de um avanço significativo no projeto de humanização, pois estamos sistematizando e integrando iniciativas que asseguram dignidade aos portadores de doenças progressivas e sem cura. Os familiares dessas pessoas também contam com a atenção da nossa equipe, recebendo orientações e visitas domiciliares.

É preciso preparo especial para realizar trabalhos como esse, pois se lida o tempo todo com dor, sofrimento e perdas. Apesar do profissional de saúde dominar as técnicas de tratamento, quando o paciente começa a falar da doença, dos sofrimentos e de como está lidando com tudo isso, o foco não está mais só no atendimento. Involuntariamente, o paciente chama o profissional para conhecer sua vida, criando um envolvimento maior.

Fortalecer os profissionais para entender essa situação é uma das tarefas da gestão humanizada do Hospital das Clínicas, que atua com equipes multidisciplinares, compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos e, em alguns casos, até assistente espiritual.

Recentemente, ouvi de um professor emérito da Faculdade de Medicina da USP que o Hospital das Clínicas não é apenas o que enxergamos dele – o que já seria muito, observando a dimensão física do Complexo. De acordo com ele, o HC tem uma espécie de alma. Um espírito próprio, impossível de ver, mas perfeitamente passível de sentir.

Essa sensação, intangível e real, deve estar no foco de qualquer debate sobre humanização. Palavras como ética e respeito têm de se misturar homogeneamente com outras como administração e gerenciamento, pois sem uma gestão humanizada jamais haverá um atendimento afetivo. É nisso que o Hospital das Clínicas acredita e busca, de corpo e alma.

Nota do Editor: José Manoel de Camargo Teixeira, médico, é superintendente do Hospital das Clínicas / FMUSP.