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Crônicas
12/09/2010 - 11h01
O superhomem e o mágico
Claudionor Quirino dos Santos
 

Numa cidade situada atrás da Serra do Mar, em um enorme vale, morava um menino pobre, que vivia as fantasias do Superhomem. Todos os dias ele vestia roupas exóticas e dizia para o pai e a mãe que iria voar sobre a cidade e fazer um monte de coisas.

Seu pai vivia chamando sua atenção e pedindo para o menino parar com aquelas bobagens, porque Superhomem que voa era uma fantasia criada pelos cartunistas. Na realidade o homem só pode voar nas máquinas engenhadas para isso, como o avião e outras, sempre explicava o pai. Mas o menino não desistia de curtir a fantasia de Superhomem.

Um dia o pai virou-se para o menino e disse:

- Já que você gosta de fantasias, vou levar você num lugar fantástico. Lá tem mar, praia, matas virgens, e você vai poder soltar sua imaginação.

E assim fez. Desceu a Serra e chegou numa linda cidade do litoral.

O menino deslumbrou-se. Encantou-se. Ficou maravilhado. Corria pela praia, caía na água, mas de vez em quando parava e ficava olhando o horizonte, a imensidão do mar, a enorme cordilheira da serra, que de longe parecia uma enorme couve-flor, ora esverdeada ora azulada, e a fantasia foi, aos poucos, tomando conta de seu espírito.

Virou-se para o pai e perguntou:

- Será que eu não posso voar aqui?

- Claro que não, respondeu o pai, meio irado. Será que nem aqui você vai deixar essa fantasia boba?

- Não, não é bobagem, disse o menino.

O menino prosseguiu na sua imaginação. Disse que queria voar por sobre aquele mar e aquelas matas. E mais ainda, queria pintar toda aquela natureza de outra cor mais forte. Usaria o laranja, o lilás e um verde e azul mais fortes.

- Você não poderia fazer isso, retrucou o pai.

- Por que? Asseverou o menino, meio injuriado.

- Porque nem você, nem nenhum de nós, tem esse poder.

- Poder? O que é poder?

- É o que podemos fazer nos limites da nossa força física, da nossa capacidade intelectual ou da lei, respondeu o pai.

- Mas o Superhomem voa e ele pode fazer todas essas coisas, e eu vou ser igual a ele, afirmou o menino. O pai lamentou, mas não viu outra alternativa a não ser subir a serra e retornar para casa.

O menino cresceu. Seu pai morreu. Só com a mãe e quatro irmãos, suas fantasias permaneciam vivas em seu espírito. Virou excelente piloto de asa delta. Assim, podia curtir, pelo menos em parte, sua fantasia de vôo livre.

Em sua memória, o visual da cidade litorânea que conheceu com seu pai era latente. Desceu a serra e veio viver suas fantasias na cidadezinha à beira-mar.

Seu sonho de Poder, o transformou em político. Sua ambição e suas manias, voltavam-se para a fantasia de poder mudar as cores naturais da cidade e os costumes de seu povo.

Embora tendo conseguido um posto político de mandatário da cidade, não conseguia fazer mudanças no cenário da natureza, no perfil arquitetônico da cidade e principalmente no comportamento típico de sua gente. Isso o indignava.

Foi aí que apareceu o mágico. Um deputado que prometeu que tinha possibilidade de transformá-lo em um verdadeiro Superhomem da Política. O deputado disse que conhecia um laboratório de uma cidade do interior, que já tinha feito mágicas e milagres para transformar políticos em superhomens.

O menino-homem, que sonhava demais, embarcou. Mas em plena transformação, aconteceu a maldição de Frankenstein. Suas orelhas começaram a crescer, foi nascendo e espichando nele um rabo enorme, seus braços se transformaram em pernas curtas, os fios de seu bigode rarearam e começaram a esticar e ele começou a rastejar. Pior de tudo, ficou viciado em queijos.

Olhando no espelho da vida, levou um susto.

- Me transformaram num rato! Eu sou um rato! Sou um superrato, exclamou.

Experimentou, pela primeira vez, o sentimento de vergonha. E sua reação não poderia ser outra. Lembrou de sua casa e de sua mãe, a tanto tempo esquecidas.

Mas como chegar em casa e se apresentar para a mãe. Ela não iria reconhecê-lo e com certeza iria matá-lo com a vassoura, pensou.

Seu medo era porque não apreendera até onde vai o amor de mãe, sua capacidade de reconhecer e perdoar um filho, em qualquer circunstancia. É o amor que vem do espírito sobrenatural, que a faz reconhecer qualquer filho, mesmo que ele se transforme no mais feio dos ratos.

Ele não tinha outra alternativa para sobreviver. Mesmo com a característica timidez dos ratos, foi para a casa de sua mãe...

Entrou pela porta dos fundos e, passo a passo, chegou até a sala, onde estava sua progenitora. Ela olhou bem nos seus olhos, passou a mão no rosto molhado de lágrimas, e soltou uma exclamação, com a voz embargada:

- Meu filho! Quem fez isso com você?

- Foi um deputado que disse que era mágico da política, respondeu. Disse que iria me transformar num superhomem e me transformou num superrato.

- Você não procurou saber antes sobre esse Laboratório Político Brasileiro?

- Não, nem sabia que existia, respondeu o rato.

Para consolar o bichinho, ela o pegou e o pôs no colo, e passou a conversar, disfarçando seu espanto. Disse a ele que também já tinha sido uma ratinha, dos l3 aos l8 anos, que vivia catando pedaços de queijo e outras comidas, nas latas de lixo.

Mas teve sorte de ter encontrado o marido, um grande cientista social, de quem o infeliz animalzinho deveria ter ouvido os conselhos. Disse que quando ele a encontrou, a chamou de ratinha, mas que iria dar um nome de honra pra ela, pra que todo mundo a respeitasse, e que iria transformá-la em uma mulher. Ele não falou em rainha ou supermulher. Pronunciou apenas a palavra mulher.

- Seu pai fez comigo o contrário, de ratinha virei uma mulher.

- Quando vocês cresceram e ele já havia passado, também apareceu um deputado federal, com essa conversa que iria me transformar numa supermulher. Mas eu já conhecia papo de político e saí fora dessa mágica.

- Costurava à noite e vendia cosméticos de dia para sustentar vocês e pagar suas Faculdades. Essa era a teoria do meu cientista. Basta ser mulher, não precisa ser supermulher pra viver com dignidade e honestidade, conquistar as coisas de seus sonhos e ser respeitada no meio social.

- Você, ainda, meu filho, quando cansar da vida nos porões sujos, imundos, malcheirosos, escuros, sufocados, vai sentir vontade de ser um homem. E não precisa ser um superhomem: basta ser um Homem.

- Um homem se destaca por sua personalidade, sua honestidade, seu caráter, sua sensibilidade, sua capacidade, sua probidade, sua honra e seu trabalho. No caráter do homem o importante é a moral, antes do poder ou do capital.

- O maior poder de um homem se assenta na moral, na fé e na vivência do Amor Sobrenatural, emanado do Mundo Espiritual; não é imaginar que pode voar em mantas azuis ou vermelhas ou pensar que pode enriquecer sem trabalho honesto; é também a sabedoria de viver, saber realizar, voar nos sonhos, sem tirar os pés do chão e só usar as mãos para trabalhar, plantar e fazer o bem. Para isso, basta ser homem.

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