Rita Ribeiro tem nome forte e marcante, o que é ideal para uma futura jornalista. A jovem é estudante do 3º semestre de jornalismo. Apesar da pouca idade, 20 anos, não quer perder tempo e já saiu em busca do seu primeiro estágio. Ela sabe da importância de se buscar todo tipo de experiência na área escolhida. Semana passada perdeu uma excelente oportunidade de trabalho. Rita mora com os pais, tem tempo disponível para estudar, possui computador ligado à internet, mas não gosta e abomina quem tem orkut, twitter, facebook e gtalk. Acha isso tudo muito chato. Uma das justificativas apresentadas pela estudante é que ela não gosta de fofoca nem de “perder tempo” com coisas que ela considera fúteis. Mas a universitária sentiu o peso de não se integrar aos novos meios ao ter um salário de R$ 800 negado simplesmente por não fazer parte do universo das redes sociais. A vaga de estágio era para trabalhar numa multinacional por quatro horas, com direito a vale alimentação e transporte. A função básica era fazer o monitoramento diário e sistemático de várias ferramentas da internet (orkut, MSN, linkedin), além de mantê-las atualizadas. A empresa, que já está há mais de 40 anos no mercado, mesmo possuindo um modelo conservador de gestão, percebeu a importância de se integrar aos seus diversos públicos por meio da rede mundial de computadores. Acolhendo palpite de um acionista de pouco mais de 30 anos, a instituição decidiu entrar na era tecnológica, mas, para isso, precisava contratar um estudante de comunicação disposto a ajudá-la nessa nova jornada. A multinacional sabia que estar presente nas mídias sociais já não era mais um diferencial, já era quase uma obrigação. Seus clientes estavam lá e seus concorrentes também. O que realmente faria a diferença era ter uma boa política de uso dessas redes para aproveitar todo o potencial delas em benefício da própria organização. Uma vez conquistada a vaga, o estagiário teria direito também a um curso específico de WEB 2.0, Hipertexto e Hipermídia. Pela empresa, o curso sairia de graça. Se particular, não sairia por menos de R$ 500, por 20 horas/aula. Resistente como a Rita é, mesmo depois de perder a vaga, decidiu não fazer parte desse universo de redes sociais. “Isso é moda. Logo passa”, afirmou a moça. Mas a Rita está enganada, muito enganada. Isso não é moda, nem vai passar. Chateada por ter perdido uma grande oportunidade, Rita abriu seu querido diário e desabafou: “A concorrência é grande. Isso deprime e me desestimula”, lamentou. A irmã dela, que é mais velha 13 anos, riu da Rita por ela insistir em manter um diário impresso. “Larga isso. Estamos numa nova era. Se quer lamentar faça isso num blog, quem sabe assim você consegue a vaga”, disse espertamente a hermana. Para se ter ideia da força dessas ferramentas, o orkut, por exemplo, é um dos sites de relacionamentos mais acessado pelos brasileiros. A página eletrônica tem, nos dias de hoje, mais de 37 milhões de usuários. Ele é o segundo site mais acessado do Brasil, perdendo apenas para o Google. Com a popularização, o orkut deixou de ser apenas um site de relacionamentos e assumiu a função de uma eficiente ferramenta de marketing para pessoas e empresas. As informações descritas acima fazem parte de um levantamento encomendado pela Google do Brasil. Pesquisa realizada pela Agência Click apontou que, pelo menos, 55 milhões de brasileiros já estão incluídos nas mídias sociais. Este dado assusta, uma vez que o Brasil, de acordo com o IBGE, possui, aproximadamente, 180 milhões de pessoas. Para dar uma dimensão ainda mais assustadora, só neste último ano, o twitter cresceu 1382%. Segundo o estudo, um a cada três brasileiros usa a internet e mais de 12 milhões de computadores foram vendidos em 2008. Ficamos conectados durante 23 horas em um mês, superando países como Japão ou Estados Unidos, que gastam apenas 19 horas. Dessas 23 horas, gastamos 6 horas e 20 minutos dentro das mídias sociais. O orkut possui os números mais expressivos. Segundo dados da própria página, 51% dos usuários alegam residir no Brasil. Porém, o número pode ser ainda maior, já que não são computados aqueles que alegam outras nacionalidades no seu profile, mas que são brasileiros. O facebook também está ganhando terreno, muito por causa de seus jogos e aplicativos. Ele cresceu 40% a mais que o orkut em 2009. No twitter, São Paulo é a quarta cidade no mundo que mais usa o serviço e agora até tem o direito de possuir listagem de Trending Topics própria. Essas ferramentas, desde que bem utilizadas, podem ser uma poderosa aliada na divulgação de marcas, empresas ou produtos. Podem servir, inclusive, para fazer seu marketing pessoal, tão fundamental nos dias de hoje. Uma dica que dou a todos meus alunos é de que entrem na “onda” e façam parte dessas redes. Não precisa se cadastrar em todas elas, até porque são muitas, mas têm algumas que são essenciais como orkut, twitter, gtalk e facebook. As redes sociais são fundamentais na vida de qualquer profissional de comunicação. Afinal, ninguém sabe o dia de amanhã. Ter contatos on-line é fundamental para não ficar desempregado. Estando na rede você está conectado com os colegas, mesmo aqueles que você não vê há anos. Já vi muita gente dar furo de reportagem ou conseguir emprego pelo orkut, twitter, ou simplesmente porque estava com o gtalk ligado na hora e no momento certo. Mas para trabalhar com essas ferramentas é essencial por em prática um exercício que deve ser diário: separar a vida pessoal da profissional. Se você quiser avisar aos seus seguidores no twitter, por exemplo, que você acordou às 10h quando deveria ter acordado às 8h, faça isso, mas de maneira consciente. E pergunte-se criticamente: a quem interessa esta informação? A resposta você deve saber. Usar as ferramentas de forma desorganizada e sem critérios pode acabar arranhando sua imagem e credibilidade perante os seus públicos. Hoje em dia, muitos empregadores antes de contratarem o funcionário fazem uma verdadeira varredura virtual. Aqueles engraçadinhos que possuem comunidades do tipo “odeio acordar cedo” ou “detesto chefes” podem ser descartados como se fossem spams. Usar o twitter ou facebook para fofocar, desabafar ou publicar mentiras também demonstra uma personalidade infantil e caráter duvidoso. Escrever errado também não é legal. Tudo bem que o espaço nestas redes é curto, muitas vezes mínimo, mas saiba ser criativo, direto e objetivo. Não subestime essa rede. E mostre que você pode fazer a diferença. Alguns experts não consideram blogs, orkut, myspace, facebook, twitter e tantos mais como redes sociais. Para Augusto Franco, especialista na área de informática, estes meios são simplesmente ferramentas de diálogo, mecanismos digitais ou virtuais de emissão e troca de mensagens simultâneas que possibilitam a interação entre os indivíduos, desde que os mesmos estejam conectados na rede. “Se não existissem as pessoas não haveria essa interação por meio das ferramentas na internet”, explica Franco. Para o professor, redes sociais são pessoas interagindo, trocando ideias e informações. As ferramentas podem e são úteis, pois facilitam a integração dos indivíduos, independente de onde elas estejam. Um exemplo que ilustra bem o conceito de redes sociais é a Teoria dos Seis Graus de Separação, desenvolvida e testada pelo psicólogo norte-americano Stanley Milgram. O cientista descobriu que cada indivíduo está a apenas seis graus de separação de outro grupo de pessoas. Milgram chegou a este número por meio de uma experiência realizada com 160 pessoas que viviam em Boston e Omaha (Nebraska), nos EUA, em 1967. Para testar a teoria, o cientista enviou uma carta para cada um dos participantes da experiência com instruções para que a mesma chegasse a uma pessoa-alvo, originária de Sharon, Massachussets, mas que trabalhava em Boston. As pessoas não poderiam enviar a correspondência diretamente à pessoa-alvo, mas deveriam buscar amigos, contatos e pessoas que a conheciam pessoalmente e que pudessem ajudar na entrega da correspondência. Estas eram as regras. Cada participante deveria escrever o seu nome na carta de modo que depois fosse possível monitorar o caminho percorrido até o seu destino final. O método criado por Milgram ficou conhecido como small-world. Ao final da experiência, o cientista descobriu que o número médio de intermediários entre os participantes da experiência era de seis pessoas. Ou seja, a correspondência, em média, passou por outros seis atravessadores antes de chegar ao seu destinatário final. A tese de Stanley Milgram comprova que vivemos num mundo relativamente pequeno, e que nossas redes podem ser muito maiores do que efetivamente sabemos. Em 2003, a revista estrangeira Science publicou o mesmo estudo, só que atualizado. A experiência foi realizada com 61 mil internautas, de 166 países, que foram estimulados a encontrar um de 18 desconhecidos usando suas conexões on-line, entre os quais um inspetor de arquivos na Estônia, um consultor de tecnologia na Índia, um policial na Austrália e um veterinário do exército norueguês. O estudo demonstrou que, em média, apenas cinco a sete etapas foram necessárias, com a ajuda de amigos e conhecidos. "A Internet é apenas uma ferramenta para isso. O que está em jogo são na verdade as redes sociais", diz Duncan Watts, que dirigiu o estudo. Dois homens, um na Croácia e um na Indonésia, foram os mais difíceis de localizar, enquanto um professor da Cornell University atraiu o maior número de conexões, afirmou Watts em entrevista para o portal UOL. "Você poderia pensar que se trata de um cara especial", disse Watts. "Mas eu o conheço muito bem. É um sujeito comum. Não viaja tanto. Havia outras pessoas participando que nós achávamos que seriam mais conectadas que ele", esclareceu. Na dúvida, é melhor fazer parte dessa rede! Nota do Editor: Sílvia Barros é jornalista, professora universitária, especialista em Gestão da Comunicação e mestranda em comunicação.
|