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Opinião
19/09/2010 - 09h10
Templos e os mercadores da lei e da fé
Claudionor Quirino dos Santos
 

Quando Jesus Cristo expulsou mercenários de dentro de sua Igreja, deixou bem claro que a Igreja é Casa de Oração, não de negócios; quando disse que se devia dar a Cezar o que é de Cezar e a Deus o que é de Deus, deixou claro que a lei social do Estado deve ser respeitada pelos homens.

Dois pensamentos cristãos, duas verdades hoje utilizadas num disfarce como instrumento de mercado: a fé tem sido explorada como meio de capital em certas igrejas ou templos; a lei social criada pelo Estado, às vezes imperfeita, é vendida por funcionários mercenários ou mesmo mandatários corruptos, a preço de quitanda.

Os mercadores da lei e da fé, corrompidos pelo poder do dinheiro, causam um desastroso prejuízo à sociedade e dificilmente são punidos por isso.

O lamentável é que, com isso, criou-se uma justiça (ou injustiça) com dois pesos e duas medidas.

Uma coisa acabou como certa no mundo moderno: quem conta com o poder do dinheiro ou o poder político, consegue o que quer no serviço público; quem não conta, sofre as conseqüências da dura pena da lei, se socorrendo a uma justiça enfraquecida pelo sistema jurídico, aprovado pelos poderes políticos, legislativo e executivo.

Os direitos e garantias individuais são suprimidos pela corrupção e pirataria econômica e política. A mentira do poder prevalece no lugar da verdade, a corrupção prevalece no lugar da probidade e o terrorismo político, com assédio moral e perseguição prevalece no lugar do direito e da Democracia.

O pior é que o regime da corrupção, já instalado, como uma espécie de Quarto Poder, atinge a maior parte da sociedade, que é a constituída pela classe pobre ou a desinformada, por falta de cultura e instrução.

Uma vergonha que desanima o homem de bem e faz lembrar Ruy Barbosa: “...de tanto ver crescer as injustiças; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se de si mesmo, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Quando os poderes executivo e legislativo se irmanam em atos e leis para enfraquecerem o poder judiciário e praticarem certos atos estranhos ao interesse público, na ausência da coragem, da probidade e da hermenêutica da Justiça, o indivíduo fica desamparado de seus direitos básicos.

Lamentável que a corrupção tenha chegado ao Poder Judiciário. Assim fica fácil profetizar-se o destino da humanidade.

Quando o indivíduo não puder mais confiar em nenhum político, nenhum policial, em delegados, em promotores, em juízes, em desembargadores, em ministros dos tribunais superiores de justiça, a sociedade terá vida de gado e terá que aceitar as rações e migalhas que o Estado lhe oferecer para alimento do corpo, eis que destituída de outros valores espirituais e sociais.

Pior que a corrupção, é o poder das igrejas interferindo na política e nos poderes, não com visão de ampliação da fé cristã, mas com visão de metas financeiras, como instituição bancária, investindo mais em templos, como nos tempos dos cavaleiros templários, do que no desenvolvimento da doutrina evangélica.

Não é pelo tamanho do templo ou maior número deles que se mede o tamanho da fé de um rebanho cristão.

Não me oponho a que as igrejas participem da vida política e social da comunidade, mas sem intervir no poder de qualquer esfera, mantendo apenas relações de integração social, com vistas à justiça social, não com propósitos de interferência ou de usufruir vantagens contrárias ao interesse público.

O que vejo e sinto são diretrizes que lembram os Cavaleiros Templários, nas historiadas guerras santas. Tudo tinha origem no fracasso econômico da Europa e na busca do ouro de Salomão, na África, e de outros tesouros monárquicos no lado oriental, incluindo Jerusalém, a Terra Santa, episódio que por isso ficou conhecido como “guerra santa”.

Os cavaleiros partiam em expedição e iam construindo templos e aldeias pelo caminho, em nome de Deus e do bem. Pessoas do bem formavam seus escudos mais preciosos. Geralmente eram pessoas que prosperaram, mas que, por sua formação familiar, mantiveram suas almas puras. Essas eram as pessoas preferidas para escudo dos templários, como ocorre nos dias de hoje, em algumas sociedades religiosas.

Daí pode-se distinguir a palavra “templo” da palavra “igreja”. Os templos, organizações físicas, eram uma espécie de banco, onde se guardavam os valores materiais e o ouro, lavado em nome de Deus e da fé, contribuição de muitas pessoas que acreditavam na vida eterna profetizada, em nome de Cristo, o Salvador. Igreja é a organização social da sociedade religiosa.

O ouro voltava limpo dos condados onde se originava, através dos templos. Se o cavaleiro templário fracassasse, era banido das Ordens a que serviam. Em muitos casos até degolados, secretamente.

Os organizadores das Ordens, tinham, através dos templos, toda mordomia, principalmente viagens financiadas pelos templos. Os cavaleiros construíram templos suntuosos que ainda existem e se tornaram produtos turísticos, em muitos países da Europa, sendo a “Via Láctea” da jornada de peregrinos que seguiam os cavaleiros da Ordem Templária.

Nenhum peregrino sentiu o gosto da prosperidade, só os senhores da Ordem usufruíam do progresso e do capital arrecadado. Muitos peregrinos morreram pelos caminhos, de fome e sede, na miséria, com os olhos abertos para o céu, na esperança só da vida eterna a ser desfrutada no Mundo Espiritual Prometido. Ao contrário da doutrina cristã que não admite que uns sejam ricos, muitos ricos, e outros pobres, miseráveis.

Eu tenho fé religiosa adquirida na devoção de minha filiação paterna e fortalecida no seminário menor franciscano em que fui interno, na época dirigido por frades italianos, acredito no Mundo Espiritual, mas repudio todas as sociedades religiosas que exploram a fé como os templários.

Congratulo-me com os pastores evangélicos de boa fé que lutam pela prosperidade e salvação de seu rebanho, olhando para Deus, não para o ouro das moedas que possam advir da profissão da fé.

Adorar o ouro das moedas, que pode ser de grande quantidade, é pior do que adorar as imagens dos pequenos bezerros ou carneiros de ouro, símbolos de pequeno lastro monetário, como prática religiosa de tribos antigas, como criticado pela maioria das sociedades religiosas, por estar prescrito na doutrina cristã.

É necessário correta interpretação das imagens dos carneiros de ouro, que podem lembrar valor monetário como o das moedas hoje correntes, com as produzidas pelos artistas plásticos e escultores, para entender-se os valores materiais e os emocionais, que não seria adoração espiritual.

Pode-se deduzir da peregrinação e dos cavaleiros templários que as Cruzadas não tinham sentido de fé apenas, mas de exploração financeira da crença. Seria o disfarce, da fé e de pretensão de mercenários em busca do ouro.

As sociedades religiosas que se organizam como templos, hoje em dia, que se preocupam em espalha-los por várias regiões do mundo e em crescer em poder financeiro, são sociedades que se organizam como ordens templárias, fixando para seus missionários metas financeiras, como bancos. O crescimento econômico está acima do crescimento da doutrina.

Nessa rede de templos pode ser remetido dinheiro que volta, numa ida e vinda, onde pode ocorrer lavagem. A suspeita é sempre comentada.

Nessas sociedades pode ocorrer a lavagem do ouro, oriundas de operações clandestinas, porque não será fácil provar que ela admite essas operações, estando sempre atentas a provar o contrário, a defender seus cavaleiros, para o que utilizam as pessoas do bem que a integram, como permanente escudo, diante do seu rebanho de fé, ostentando uma postura insuspeitável.

Elas utilizam o poder para se locupletarem e até empolgam seu rebanho com a idéia de ser importante o poder para crescer. Assim, ninguém faz conta do quanto seria necessário em contribuições dizimais para um crescimento galopante.

Ninguém confere os valores e a movimentação das oferendas, na proporção dos ofertantes presentes no momento das contribuições, nem as fontes de onde se origina o capital empregado em aquisição imobiliária, nem mesmo o valor real dos imóveis e os constantes do títulos de alienação.

E o rebanho passa a ser admirador das estrondosas arrecadações, do acelerado crescimento patrimonial, como uma demonstração de liderança, sem fazer conta.

Ninguém do rebanho admite que a arrecadação possa ser oriunda de operações clandestinas e a própria comunidade acha falta de respeito pensar em lavagem de dinheiro.

Os que assim pensam e denunciam são logo enquadrados pelo líder do templo, como endemoninhados. E o rebanho foge dele, tentando imputar ao mesmo algum defeito, principalmente o de inimigo da fé.

Temendo a discriminação religiosa e uma contabilidade a prova de qualquer perícia, organizada nos termos da legislação vigente, até a Justiça é temerosa em apurar lavagem de dinheiro em organizações religiosas, mesmo porque, às vezes em que houve tais denúncias, estas resultaram infrutíferas, pela ausência de provas e firmeza dos dirigentes em negar tais fatos.

Evidentemente que não estou generalizando, mas apontando fatos que são do conhecimento público.

Assim, os “cavaleiros templários” seguem sua marcha pelo Mundo e pelo Brasil até que surjam leis específicas que permitam fiscalizar as sociedades religiosas como empresas financeiras, em suas matrizes e filiais.

Enquanto isso, grandes sociedades religiosas, católicas, evangélicas, anglicanas, metodistas, ortodoxas, muçulmanas, islâmicas, judaicas etc. podem estar sendo sim um excelente canal e varal para lavar e enxugar dinheiro, devido à forma de sua organização, que não permite correta fiscalização do Estado, e por falta de equipamento jurídico específico para a ação fiscal. Tudo fica dependendo da honestidade de seus agentes e dirigentes.

Se sociedades religiosas se organizam como empresas de fachada, as mais visadas como fonte de lavagem de dinheiro, podem ser sim canais templários dessa prática.

Em qualquer caso, se existirem tais indícios, só com leis específicas de fiscalização, que precisam ser votadas e regulamentadas, será possível apurar irregularidades, e não é pra qualquer macaco por a mão nessa cumbuca.


Nota do Editor: Claudionor Quirino dos Santos é bel. em Ciências Sociais e advogado. E-mail: claudionorquirino@gmail.com.

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