Minha geração viveu uma transição curiosa: Na década de 1960, o "amor livre", os movimentos contra o racismo e a maior acessibilidade ao ensino oxigenaram nossa infância e adolescência, livrando-nos de alguns preconceitos e inventando outros. Naqueles tempos, a gente jogava bola em ruas quase sem movimento. Futebol de botão, carrinhos de "rolimã", bola de gude, coleções de figurinhas e jogos de taco ou "espeto" também faziam parte das distrações da molecada, pois os brinquedos mais sofisticados eram sonhos tão distantes, que a gente nem se dava ao trabalho de sonhá-los. Teve época em que virou "febre" colecionar adesivos plásticos. Lembro de meu irmão mais velho enviar cartas com textos-padrão, em inglês, para os EUA, e receber, em resposta, cartões-postais e adesivos da NASA, Penzoil e outras. Os meninos competiam para ver quem tinha os vidros de janelas e malas escolares mais lotados! Tecnologia? Ter um rádio “de pilha” era um rito de passagem. Já um gravador de fita cassete garantia economia e popularidade. Quem tinha um aparelho de som estéreo ou uma câmera Super-8 era quase um ET. Mas, quem não tinha nada disso, nem por isso era menos feliz. Comunicação? Duas latinhas de fermento em pó e uma linha bem esticada bastavam! O tempo passou e as mudanças vieram sob forma de uma avalanche de tecnologia: comunicação, realidade virtual etc. Algumas delas são, hoje, indispensáveis, mas viveríamos muito bem sem muitas das quinquilharias "de ponta" que nos são empurradas e cobradas todos os dias, não porque sejam imprescindíveis, mas para que os outros vejam que as temos. Assim, as aparências continuam e os modismos se sucedem com velocidade vertiginosa. A obsolescência paira sobre coisas e gentes, que também são tratadas como coisas. As informações se multiplicam: condicionantes, contraditórias, ambíguas... E quase não há tempo para processar e concluir racionalmente sobre contextos e intenções. Deve ser a tal da dromocracia... Dizem: "Comprem!". Compramos! "Façam isso!". Fazemos! O curioso é que quem exorta raramente faz o que incentiva. Em suma: continuamos a ser conduzidos e nem sempre nos divertimos com isso. Quem se diverte e lucra são os outros. Quais os tempos melhores: aqueles ou os atuais? Bem, isso é relativo... Mas parece que havia mais tempo e espaço para criatividade, interatividade e amizade. Mas, ontem como hoje, a escala do tempo continua a mesma, não? Pois é... Talvez só estivéssemos um pouco mais atentos a ele. E ele retribuía! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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