Na sua derradeira manifestação eleitoral, o presidente Lula voltou a atacar a imprensa. Na carreata do sábado (2/10) em São Bernardo do Campo (SP), o presidente acusou aqueles que confundem liberdade de imprensa com autoritarismo da imprensa. A declaração é infeliz por dois motivos: porque não consegue disfarçar um ressentimento algo autoritário e porque, além disso é extemporânea, impertinente. Numa segunda leitura fica escancarada a tática de atacar a imprensa como recurso preventivo quando se sente em desvantagem. É evidente que àquela altura o presidente já fora informado pelos especialistas em sondagens de que a possibilidade do segundo turno era concreta, tanto assim que na manhã seguinte, ao votar, admitia abertamente esta possibilidade. Significa que o confronto governo-imprensa era falso, mero pretexto para colocar a disputa entre os principais candidatos em segundo plano. Mais pluralismo O recurso não honra a celebrada e comprovada sagacidade do presidente que encerra um importante embate eleitoral – talvez um de seus últimos – compartilhando atitudes de aliados em países vizinhos sem a sua biografia, estatura e atributos. Para usar uma metáfora futebolística, o presidente saiu contundido desta partida tanto por este fecho como pelo desfecho estatístico-eleitoral. Por outro lado, também ficou claro que a imprensa brasileira precisa se reentender e se reinventar. Ela é panfletária, mesmo quando se dispõe a investigar e a denunciar ilícitos ou malfeitorias. Ela precisa desvencilhar-se dos cacoetes marqueteiros da última década que só valorizam a banalização e a fragmentação. Pouco adianta que jornais e revistas agora reclamem da ausência de debates sobre idéias e programas no primeiro turno. Os responsáveis por esta insensibilidade e indiferença são os próprios jornais e revistas que habituaram os leitores a um jornalismo raso, montado dentro dos paradigmas do espetáculo e do entretenimento. Se a mídia critica uma arrogância do presidente no tocante ao seu desempenho, esta mesma mídia precisa despojar-se da onipotência para começar a conviver com a crítica e o conceito de pluralismo. Obsessão pelo pesquisismo A idéia de um organismo autorregulador é positiva, mas insuficiente. As gestões que o presidente do Senado José Sarney começou a fazer nos últimos dias para ressuscitar o Conselho de Comunicação Social são mais que bem-vindas. Ele o liquidou, cabe a ele devolver este importante órgão ao convívio institucional. O que não pode ser esquecido nestas primeiras avaliações é que a pesquisite e o pesquisismo sofreram um sério revés, alguns institutos de opinião mais do que outros. De qualquer forma, ficou claro que obsessão da mídia pelas sondagens terá que ser refreada na cobertura eleitoral. Ou os entrevistadores não souberam escolher os entrevistados para compor tendências ou os entrevistados enganaram os entrevistadores. O que parece mais provável. A disputa eleitoral vai ser passada a limpo. Isto é ótimo. Desde que não seja uma reprise.
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