Televisão: uma caixa, comumente preta, que tem o incrível poder de manter pessoas em sua frente durante horas a fio. José tinha três: uma na sala, uma na cozinha e outra no quarto. Cogitava comprar mais uma para pôr no banheiro, mas lhe faltava verba. Não tinha esposa nem filhos; apenas um cachorro, a quem dera o nome de Colosso - homenagem ao nostálgico programa que ele tanto amava. Necessitava da TV; era uma companheira para toda hora. É claro que o homem respeitava plenamente a velha máxima de que "o cachorro é o melhor amigo do homem", mas, em algumas ocasiões, um pobre cão não pode substituir uma televisão. Por exemplo: Colosso nunca respondia às perguntas de seu dono: "gravata vermelha ou azul?". A caixa preta, sim. Ela, definitivamente, sabia vestir José. Com ela, o homem dava risada, aprendia receitas novas, tomava lições de etiqueta, aprendia novas músicas, se distraía e até conversava: respondia ao "boa noite" do âncora, no fim do telejornal. Seus vizinhos o aconselhavam a procurar uma namorada. Diziam: "quem sabe, assim, você larga essa maldita televisão". Mas ele já havia visto na TV, naqueles programas sobre saúde, que um relacionamento causava muito estresse. "Ser solteiro está na moda", disse a apresentadora. Mas, mesmo com esse pensamento, ele adorava novelas. Gostava de toda aquela fantasia - e ele sabia que se tratava apenas de fantasia - de casais apaixonados e de fortes amizades. José não acreditava em amizade. "Com tanta disputa e ambição rolando pelo mundo, quem vai ter tempo pra fazer amigos? Só por interesse!", falava, com certa indignação. O aparelho, enfim, controlava a vida de José. E ele, até certo ponto, gostava disso. Ele tinha consciência de tudo que era dito sobre a televisão: que formava opiniões, alienava, manipulava... mas ele não se importava. Fosse como fosse, era sua melhor - e única - amiga. E, por incrível que pareça, a de Colosso também.
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