De acordo com o filósofo francês Jean-Paul Sartre, “os outros nos revelam”, ou seja, cada um de nós é o que é porque tem a convivência com o outro. Portanto, o meu eu tem muito do outro. Digo isso, ou melhor, começo assim este breve texto porque, no cotidiano de cada um, existem muitas situações que nos causam espanto, admiração e seus desdobramentos, sobretudo inconformismo diante de tantas injustiças, descasos etc. Um exemplo: neste período de eleições, duvido que você, portador de princípios éticos, não esteja indignado ainda mais pela poluição ambiental (visual, sonora...) promovida em nome da “cidadania”, da “democracia” e outros clichês afins. Depois de dez dias do primeiro turno, apesar de terem varrido as portas das escolas, as nossas vias públicas continuam sujas com materiais dos candidatos, inclusive defensores de políticas ambientais. Por isso e tantas outras situações mostradas pelo outro, o meu eu questiona o modelo que aí está colocando os seguintes itens: 1- Eleição nunca deveria ser algo obrigatório; 2- Em tempo de crise energética e ambiental, jamais as florestas e outras matérias básicas deveriam ter um fim tão pouco nobre (se tornarem mais sujeira em nossos logradouros); 3- Política deveria ser ensinada desde os primeiros momentos da vida escolar. Creio que tais pontos já seriam suficientes para dar um basta à sazonalidade política que vivemos, onde crianças, adolescentes e jovens repetem frases feitas por seus pais, professores, amigos, pais dos amigos etc. Enquanto isso, também os adultos se tornam “papagaios” excelentes: reproduzem os pensamentos dos patrões, dos líderes religiosos, de “entidades idôneas” e de tantos outros que desprezam a autonomia enquanto valor. Imaginem vocês que eu escutei a seguinte pérola: “Não votem em fulano porque ele é favorável ao satanismo”. Não é o máximo da alienação? Que argumento! Exemplos assim me fazem concordar com o velho Sartre ao afirmar que “o inferno são os outros”. José Ronaldo dos Santos ronaldo.jrszero@gmail.com
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