A saúde financeira deve ser a meta prioritária de quem está à frente da gestão condominial. Estamos no último trimestre do ano, quando incidem sobre os condomínios as despesas decorrentes do dissídio e décimo terceiro salário. Mão-de-obra e encargos são responsáveis por 50% das despesas gerais ordinárias. Em seguida vêm água e energia elétrica. A instalação de hidrômetros de medição de água individualizada pode responder por uma economia de até 30% na conta dessa commodity, além de agregar valor de compra e venda ao imóvel. Para as construtoras, tem valor de marketing, mas até agora não consta como deveria do material de propaganda, nos lançamentos. A revolução dos hidrômetros individuais está apenas começando. Esse equipamento deve, entretanto, ser considerado como indispensável se o mercado imobiliário pretende mesmo ser sustentável. O chuveiro elétrico é um dos vilões do desperdício de água e energia elétrica nas unidades autônomas. Uma das razões é o banho que se prolonga por mais de dez ou quinze minutos. Há quem garanta que, sem a conta de água individualizada, em que todos pagam pelo que consomem via hidrômetro - e não pela média do consumo do prédio -, nada conseguirá reduzir banho tão demorado. É cultural. Brasileiro adora água vertendo, seja para cima seja para baixo. Até há poucos anos, era quase lei para os prefeitos do interior terem um chafariz na praça principal das cidades. E nos dias atuais ainda é comum o uso de esguicho de alta pressão para “varrer” o que uma velha e boa vassoura faria sem dificuldade. Nas áreas comuns dos condomínios, as mangueiras não devem ser usadas como vassoura hidráulica. E o reuso da água da chuva pode economizar bastante nessas áreas. A economia na conta de luz pode ser de até 15% com a instalação de lâmpadas acionadas por censor de presença, dependendo da utilização da área. Não seria necessário lembrar que a troca de lâmpadas incandescentes pelas de mercúrio pode ajudar em muito a guerra ao desperdício de energia elétrica. Edifícios com dois elevadores no mesmo hall podem operar com apenas um deles nos horários de menor movimento. Via de regra, um dos elevadores pode ser desligado entre 11 e 16 horas, nos dias de semana. Já existem no mercado elevadores inteligentes que não respondem aos chamados duplos, que acionam desnecessariamente dois equipamentos ao mesmo tempo. A administradora também é fator de economia. Ela pode ajudar a reduzir despesas cuidando dos contratos, da compra de material, da negociação com empresas terceirizadas, seleção de funcionários e uma miríade de outros cuidados. Mas há um fator intangível no esforço para que o condomínio economize naquilo que for possível: é o que chamamos de conscientização. E a conscientização também se chama vigilância. O síndico pode vigiar o zelador e os porteiros, que podem vigiar os faxineiros. Todos podem ser vigiados pelos condôminos. Vigilância não vale apenas para as questões de segurança. Vale para quase tudo. É a mais difícil das virtudes humanas. E tem de ser voluntária. O Secovi-SP tem ministrado cursos e lançado manuais de uso racional da água, energia elétrica, segurança e prevenção de incêndio, tributos, entre outros, para orientar síndicos e moradores. Esse material está disponível para todos os que moram ou trabalham em condomínios, na biblioteca do sindicato. Pode ser de grande ajuda para síndicos experientes e novatos de todas as idades, em condomínios de todos os tamanhos. Mas deve também ser lido pelos moradores. E por todos os que operam na cadeia do mercado imobiliário, da qual o condomínio é o produto final. Não é necessário lembrar que a economia pode ser útil para cobrir despesas extraordinárias, amenizando os rateios inevitáveis quando elas têm de ser feitas. A economia faz milagres. O que falta talvez nos condomínios é uma noção melhor do negócio coletivo. Dentro e fora dessas comunidades, nossa cultura é individualista e despreza a ação comunitária. Ainda não aprendemos o valor da ação conjunta. Condomínios são um exercício de competência em grupo. E são o que podemos fazer melhor em termos de moradia nas grandes cidades brasileiras. Pelo menos, por enquanto. Nota do Editor: Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor do Grupo Hubert.
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