Quem o vê ainda acredita que ele possa entrar em campo e exercer sua majestade irreverente. O porte atlético, o sorriso aberto, o jeito mineiro, o sotaque santista e o inconfundível “entende?” ainda são os mesmos. Graças a Pelé, quando mais tarde alguém tentou justificar o preconceito, aquilo me pareceu tão sem propósito e coerência, que passei a nutrir um profundo desprezo, sim, mas pelos preconceituosos. Pelé surtiu esse efeito em muitas pessoas, no Brasil e no mundo. Até as torcidas adversárias, quando o atiçavam, não era por preconceito, mas para extrair dele um novo momento mágico, uma nova obra-prima. Tanto que os mesmos que xingavam, aplaudiam de pé seus prodígios, agradecidos e deslumbrados. A paixão de Pelé pela bola foi tão grande, que até goleiro ele foi para poder abraçar sua maior amada! Quando eu e meu filho vimos “Pelé Eterno” foi um festival de emoções e gargalhadas incontidas. Em dado momento ele olhou para mim, com um largo sorriso do rosto, e comemorou: “- E ele jogou no nosso time!”. Pelé tem essa aura de eternidade, que expõe sorrisos espontâneos, que parou guerras e curvou poderosos. Só ele era capaz de lotar estádios com pessoas de todas as raças, etnias, credos, ideologias e nacionalidades sem que isso fizesse a menor diferença para uns ou outros. Que grande embaixador do ecumenismo e da paz universal! Que grande maestro de platéias, que ao seu comando, preciso, gritavam ou calavam. Pensando bem, existe uma divina coerência e propriedade no nome dos dois times que Pelé defendeu profissionalmente: Santos e Cosmos! Defeitos? Vão encontrar muitos! Mas quem não os tem? Como figura pública, o peso de seus atos e palavras é muito maior. Mas pouquíssimas personalidades souberam conduzir sua carreira de forma tão sóbria e correta, apesar do assédio selvagem a que sempre esteve sujeito, desde a adolescência. Consciente de seu papel foi um operário de sua arte: exercendo-a, dentro do campo, e aperfeiçoando-a, fora dele. E nunca deixou de agradecer a Deus por ela! Será lembrado pela história que construiu, pelas 1281 vezes que balançou, oficialmente, as redes adversárias; pelos gols que não fez, pelos “gols de bandeja”, pela quantidade imbatível de títulos, pelas tabelinhas e dribles improváveis, alegria dos ortopedistas; pelas arrancadas fulminantes e pelos socos no ar, mas também por ter suportado as pressões e dores sem recorrer ou sucumbir ao vício. Por tudo isso seu nome jamais ficará perdido, nem na poeira da vida nem na bruma do tempo! Pelé não precisa de altar, nem da devoção de fanáticos! Só pede que lhe prestem homenagens em vida. Nada mais justo para quem ensinou que o mundo – como a bola - só tem dois lados: o de dentro e o de fora; e que estamos todos dentro dele e devemos tratá-lo - e ao próximo - com o mesmo respeito e amor! E não precisa ser de Três Corações para fazê-lo... Basta um! Salve o Craque Café! Salve o Rei do Futebol! Salve o Atleta do Século! Que jogou no meu time e na minha seleção! Nota do Editor: Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e compositor. E-mail: prof_adilson_luiz@yahoo.com.br.
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