É muito fácil vender previdência privada no Brasil. Há uma série de decisões públicas que favorece o vendedor. Durante os cursos e palestra que ministro, posso constatar claramente esta facilidade de comercialização. Sempre que o tema surge na platéia, faço duas perguntas bem simples: 1- Quem deseja pagar menos IR, por favor, levante a mão. E todos levantam as mãos. 2- Quem tem certeza que terá uma aposentadoria digna contando somente com o sistema governamental, por favor, levante a mão. E ninguém a levanta. É justamente na voracidade fiscal e na lacuna governamental que atuam os fundos de previdência privada. A vontade de matar dois coelhos com uma cajadada é tão forte que o preço pago pelo cajado acaba sendo menosprezado. Para ter o benefício fiscal sugerido na primeira pergunta, o plano de previdência precisa ser o chamado PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), no qual o IR é calculado sobre todo o patrimônio e não somente sobre o rendimento. O PGBL permite abater 12% da renda anual tributável no cálculo do Imposto de Renda. Ou seja, uma pessoa que recebe R$ 100.000,00 por ano deverá pagar 27,5% de IR (retidos na fonte). Caso tenha um PGBL, poderá investir 12% da renda total recebida no ano (neste caso, R$ 12.000,00) no fundo e, deste valor, poderá restituir R$ 3.300,00 do IR retido (27,5% dos 12.000,00). No primeiro momento, economizar R$ 3.300,00 pode parecer um bom negócio. No entanto, para avaliar mais precisamente, é preciso considerar o cenário em um prazo mais longo. Para fazer uma simulação, consideramos o prazo de 10 anos, com os R$ 12.000,00 investidos em um plano de previdência que renda 12% ao ano. É preciso considerar as taxas também. No nosso exemplo, a Taxa de Carregamento será de 2,5%, a Taxa de Administração de 2,5% (que calculo no início do período) e, no regime regressivo de desconto de IR no resgate, teremos a alíquota de 10%. Investimento = 12.000,00 Taxa de Carregamento = - 300,00 Investimento Efetivo = 11.700,00 Taxa de Adm dos 10 anos = -4.486,57 (292,50 + 319,41 + 348,80 + 380,88 + 415,93 + 454,19 + 495,98 + 541,61 + 591,43 + 645,85) Valor Bruto já descontada a Taxa Adm = 25.188,03 IR ao final de 10 anos = -2.518,80 (portanto o IR de fato economizado foi de R$ 781,20) Valor líquido Final = 22.669,23 Se, ao invés de investir na previdência privada, o investidor optar por poupar em um fundo de renda fixa, com a mesma taxa de administração seja de 2,5% ao ano, com aplicação inicial de R$ 12.000,00 e mesmo rendimento 12% bruto, o IR seria de 15% somente sobre o rendimento - e, obviamente, a inflação para um único período é a mesma para qualquer aplicação financeira. Assim, teríamos o seguinte cenário: Investimento = 12.000,00 Tx de Adm dos 10 anos = -4.601,62 (300,00 + 327,60 + 357,74 + 390,65 + 426,59 + 465,84 + 508,69 + 555,49 + 606,60 + 662,41) Valor Bruto já descontada a Taxa Adm = 25.833,88 IR ao final de 10 anos = -2.075,08 Valor líquido Final = 23.758,80 Ao final de 10 anos, o benefício fiscal de 5 pontos percentuais, bem como o IR compensado, seria minimizado. Outro ponto que merece destaque é que o fundo de renda fixa poderia gerar uma renda vitalícia de R$ 237,58, enquanto que muitos planos de previdência não irão oferecer renda vitalícia ou não permitem passar o patrimônio para os herdeiros. Ou seja, há muito no que prestar atenção. Mas como melhorar ainda mais a rentabilidade do investimento? Uma forma é economizar a taxa de administração do fundo administrando diretamente a previdência por meio da aplicação direta em títulos do tesouro (Tesouro Direto) e ações de empresas pagadoras de dividendos (setor elétrico, por exemplo), mantendo a rentabilidade de 12% ao ano (uma proporção de 80% TD e 20% setor elétrico que tem menor risco pode gerar esta rentabilidade). Ou seja, sem a taxa de administração do fundo teríamos:
Investimento = 12.000,00 Tx de Adm dos 10 anos = ZERO Valor Bruto s/ Tx Adm = 33.276,95 IR ao final de 10 anos = -4.991,42 Custos (*) = -1.320,00 Valor líquido Final = 26.965,40 Ou seja, ao final de 10 anos, são capitalizados R$ 4.296,17 a mais que o plano de previdência comprado. E esse é o custo de oportunidade do investidor. Ao contratar um plano, haverá a conveniência, mas deixará de ganhar R$ 4.296,17 e uma renda vitalícia de 269,65/mês. Tudo isso a partir de 12.000,00. Se fossem 120 mil, bastaria multiplicar todos os números por 10 tendo, ao final, R$ 2.696,50/mês de renda com apenas 10 anos de aplicação. Para 60.000,00, é só multiplique por cinco e assim por diante. Lembro também que para turbinar a aposentadoria, é importante economizar nas taxas de administração e carregamento, fazer aportes mensais regulares (o ideal é 10% da renda liquida) e, quanto mais tempo melhor. Porém, 10 anos é um prazo já bastante razoável para começar a pensar no assunto. (*) 1% de corretagem na compra dos títulos e 10,00/mês de custódia. Nota do Editor: Mauro Calil (www.calilecalil.com.br) é professor e educador financeiro, fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil&Calil.
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