- Alô - Até que enfim! - Rsrsrsrs - Estou tentando falar com você há horas! - É, hoje aqui está parecendo casa da mãe Joana - Vai me dizer que abriu uma casa de massagens? - Xiiiiii, longe disto. Não estou "pegando nem piolho". Cheguei ao ponto de "espantar pernelongos" - Quer dizer que não está "praticando"? - Há! Nem sei quando foi a última vez. "Virgen Again", querido - Não estou te reconhecendo - Pois é, amigo, as coisas mudam - Nem beijando? - Há! Há! Há! Quem é que disse que hoje em dia existe a opção somente beijo? Ou é serviço completo ou nenhuma das anteriores - Verdade, né! Vai me dizer que você também entrou para alguma seita? - Não, não, estou fundando a minha própria - Ah! Em breve você começará a selecionar discípulos? - E discípulas - Nada esperta você, não?! - É só um tempo de recolhimento pra em seguida abrir um "fuazinho" - "Fuá religioso" com sexo catedrático - Tudo conforme as leis de Maria Madalena. O nome da congregação será: Maria Madalena dos 7 dias - Não seria do 7o dia? - Só no 7o dia? Nada disto, o negócio é "pregar todos os dias". Igual igreja em células - Ah! Ta. Cada dia o núcleo reúne-se em um lugar diferente - E uma vez por semana multiplica o pão no surubão - Há! Há! Há! Estou vendo que você já quer que eu envie o meu CV para análise, não?! - LÓ-GI-CO e além do CV é preciso que você envie uma VHS ou DVD com a última performance, para análise - Pode ser por e-mail? - Claro, estou na roça mas plugada - Básico, né! Capaz de ir morar em alto mar e ter internete via satélite - Não duvide! - Só duvido desta sua fase puritana - Sabe o que é, até acho o povo paquerável mas quando penso em beijar dá um "puft" e a vontade passa - Sei - Sabe nada! É como se as mãos das pessoas ficassem pegajosas e começassem a cobrir o meu corpo de limbo - Acho que é você quem está um limbo só de morar em um lugar tão embolorado - Às vezes vejo minha pele reluzir um verde água. Adorava lápis-de-cor verde água. Eu tinha um estojo de 36 cores. Era o máximo - Vai me dizer que tinha borrachas coloridas e cheirosas? - Tinha - E papel de carta? - Também. Cheguei a colecionar. Eram 600, no total. Ainda tenho alguns por aqui - Olha só esta conversa! - E nem te disse, ainda, que o computador pifou, de novo. Desta vez foi carregado por 1327 víruses - E você voltou às origens do papel e caneta? - Se precisar escrevo até em pedras, como Moisés - Ou na areia, como Anchieta - Isto eu já faço, normalmente - Já estou vendo a cena: Chego no seu condomínio e apresento-me: - Oi, sou amigo da Paula, ela está? - Olha, estava escrevendo um poema na Praia de Maranduba mas ouvi dizer que a praia foi pequena e ela precisou expandir-se até a Praia da Lagoinha - Háaaaaaaaaaaaaa! Não duvide - E Ubatuba pára. Todos vão até a Lagoinha ver o poema gigante. E a guarda costeira contata a MTV do Vale do Paraíba para filmar o ato histórico que é transmitido ao vivo para o mundo. E pessoas vem de todos os cantos para acampar nas Ruínas da Lagoinha. E a maré não subiu nem desceu até que o poema fosse terminado, copiado, gravado. E assim, ao final de uma semana, com o mundo sintonizando Ubatuba, Paula, entra na trilha que dá acesso ao Bonete ao mesmo tempo que a multidão, lentamente, começa a pisar nas areias que contém a memória viva da conexão entre o céu, o mar, a terra e o homem - Tomados por uma profunda sensação de liberdade os que eram até então espectadores tiram suas roupas, suas amarras e conectam-se a esta energia poética saudando a vida em sua plenitude - E a maré sobe e desce, o sol nasce e morre, a lua permanece cheia por 7 dias - O mundo nunca mais foi o mesmo - Ao menos para nós dois - Estou com saudades - Eu também - Beijo grande - Outro imenso - Tchau - Tchau
Nota do Editor: Paula Tura é escritora, clown e em breve pintora. Mantém o blog: www.mercedesaemergente.blogspot.com.
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